Powell sugere que aperto no crédito pode substituir alta de juros, dizem analistas

Embora a extensão da crise no setor bancário dos Estados Unidos ainda seja incerta, os efeitos disso no setor de crédito podem acelerar o desaquecimento da atividade a ponto de modificar a própria política monetária do Federal Reserve (Fed) nos meses à frente. Essa foi a leitura de alguns analistas após o pronunciamento do presidente da do Banco Central americano, Jerome Powell, logo após o anúncio da decisão de elevar novamente as taxas de juros em 25 pontos-base.

“Os acontecimentos no sistema bancário nas últimas duas semanas provavelmente resultarão em condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas, o que, por sua vez, afetaria os resultados econômicos”, reconheceu Powell, que alertou ainda ser muito cedo para determinar a extensão desses efeitos e, portanto, muito cedo para dizer como a política monetária deverá responder.

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, é importante saber o tamanho do “tranco” na economia que essa restrição ao crédito pode trazer porque “quanto mais o crédito apertar, menos eles precisam subir os juros”.

“Ele (o Fed) não sabe o tamanho desse tranco, então faz sentido sinalizar mais uma alta de juros e a partir daí observar. No fundo é isso que eles vão monitorar. Se for um tranco muito forte, o ciclo talvez acabe na próxima (reunião). Parece ser o cenário básico deles”, comenta.

Caruso também alerta que, em nenhum momento, estão sendo sancionados pelo Fed os cortes de juros que a curva já embute. Para o mercado, lembra, quando se olha para o segundo semestre do ano, já existe uma projeção de 1 ponto de corte de juros.

“Os ‘dots’ mostram que o ano vai terminar no pico dos juros, de 5,15%. Para 2024 e 2025 os ‘dots’ também estão bem acima do que a curva está precificando. É uma curva de juros que está embutindo uma crise maior”, afirma.

Diogo Saraiva, economista e sócio da Blueline, também acredita que todo esse estresse bancário vai acabar pesando sobre a atividade, reduzindo a necessidade de uma alta maior dos juros do que era imaginado com os últimos dados do mercado de trabalho e inflação. “Essa equivalência nas condições de crédito compensa uma alta maior dos juros”, afirma, ao analisar o discurso de Powell.

Francisco Nobre, economista da XP, observa ainda que, na coletiva de imprensa, Powell tentou aliviar as preocupações em relação ao sistema bancário dos EUA, mostrando-se confiante de que as ações do Fed estabilizaram a crise bancária.

“Ele destacou que o evento do SVB foi específico e que o sistema bancário continua resiliente e bem capitalizado. Além disso, Powell reforçou que o Fed vai rever o processo de supervisão e regulação e implementar novas políticas para garantir que o mesmo não aconteça com mais bancos”, destaca.

Segundo Nobre, essa parte da comunicação foi importante para amenizar, ou ao menos não agravar, as preocupações do mercado, “embora acreditemos que os riscos ainda estão presentes”.

Para Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, o Fomc seguiu com seu plano de voo normal ao elevar os juros em 25 bps, mantendo a expectativa de mais uma alta, e sem previsão de cortes esse ano. Mas durante a entrevista, Powell foi ainda mais “dovish”, ao considerando que há grande incerteza no cenário.

“Inclusive uma pausa no ciclo de alta foi considerada e que um e eventual aperto de crédito pode substituir uma alta de juros. Os próximos passos vão depender da evolução do cenário. O ciclo de alta pode ter chegado ao fim caso a crise bancária seja refletida em condições financeiras mais apertadas e a atividade tenha uma desaceleração mais rápida que o esperado”, afirma.

Segundo a economista, as projeções foram atualizadas com pouca mudança, com destaque para uma expectativa de menor crescimento, mas com inflação mais persistente, o que seria compatível com a manutenção esperada pelo Fomc da taxa em 5% até o final do ano.

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Por: Roberto de Lira – InfoMoney

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