Petróleo oscila com guerra e aperto monetário, mas tendência segue de valorização

Petróleo

Os preços do petróleo vêm sofrendo nos últimos dias com a alta volatilidade dos mercados, diante da nova realidade de alta dos juros globais, o que ameaça a demanda pela commodity, por conta da possível desaceleração econômica mundial.

Além disso, nova fonte de pressão aconteceu nessa semana com o aumento das tensões entre a Rússia e os países que apoiam a Ucrânia, em sua guerra com o país vizinho, com possíveis impactos sobre a oferta do produto, o que levou o preço do petróleo a se valorizar nos últimos dias.

Para especialistas ouvidos pelo InfoMoney, apesar de a cotação do petróleo ter se afastado das máximas do início da guerra – que já se arrasta há quase 7 meses e levou o preço da commodity a ficar negociado, em boa parte deste tempo, acima dos US$ 100 –, a tendência, para o curto e médio prazo, segue altista.

“A queda dos preços nos últimos meses está relacionada com o reequilíbrio de oferta e demanda para 2022. A Rússia conseguiu redirecionar suas exportações para outros países e isto permitiu o mercado se manter abastecido”, explica Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio.

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A Rússia, que sofreu embargos de suas mercadorias após iniciar uma guerra na Ucrânia, foi, em 2021, o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, extraindo aproximadamente 10,9 milhões de barris de petróleo por dia.

Com boa parte do Ocidente cortando a importação do “ouro negro” fabricado na Rússia (a Europa, por exemplo, diminui em 35%), o preço disparou, até a produção russa ser realocada – a Índia, por exemplo., passou a comprar seis vezes mais barris do país governado por Vladimir Putin.

Apesar disso, segundo dados recentes, a Rússia continua produzindo apenas 80% do volume total daquilo registrando antes da guerra, enfrentando ainda dificuldades na redistribuição dos seus barris.

Para 2023, a oferta de petróleo russo deve voltar a ter melhor escoamento, conforme o mercado se “ajusta às sanções”.

Alta de preços mesmo com aperto monetário

O especialista da PUC-Rio, no entanto, acredita que o esperado é que o preço da commodity volte a avançar, a despeito da reorganização da oferta e dos apertos monetários.

“Existe uma preocupação crescente com o equilíbrio em 2023. Primeiro, porque mesmo com a elevação das taxas de juros, há um consenso entre os analistas de que a demanda crescerá. O crescimento da oferta nos EUA, no entanto, está estimado em menos de um milhão de barris por dia”, diz Almeida. “Existe um risco elevado de desbalanço do mercado”.

Ele relembra que, apesar dos apertos monetários nos países desenvolvidos ocidentais, a perspectiva do Fundo Monetário Internacional é de que a economia mundial crescerá 2,9% no próximo ano, o que deve pressionar a demanda. “Por enquanto está tudo bem, mas podemos ter um 2023 com problemas de oferta e preços elevados”, conclui.

Gabriel Floriano, estrategista da Levante Corp., tem opinião parecida. “Cenário de preços para petróleo é construtivo desde antes da guerra, devido a uma série de desequilíbrios que se acumulam”, destaca o especialista.

“Houve um baixo investimento no setor desde 2015, 2016, que acabou restringindo a oferta de modo crônico. Os novos ciclos de investimento demoram a maturar e a agenda ESG acaba desencorajando, em certo ponto, os agentes a fazerem novos aportes no setor”.

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Menor oferta de petróleo

Para o estrategista da Levante, há uma impossibilidade dos membros da Opep, por exemplo, aumentarem suas produções. Já Arábia Saudita e Emirados Árabes, que têm capacidade para isso, não têm interesse de fazê-lo.

“Estamos construtivos no cenário de preço do petróleo. Mesmo no caso de uma desaceleração econômica mais alta, achamos que o mercado segue assimétrico. Houve redução do consumo de petróleo somente em quatro ocasiões – 73, 78, 2008 e agora na pandemia, em 2020”, expõe Floriano.

Ele acrescenta, que além das restrições de oferta, é provável que, no curto prazo, grandes potências venham a recompor suas reservas estratégicas da commodity, gastas, recentemente, por conta do endurecimento dos problemas geopolíticos.

“Boa queda nos estoques, e também dos preços, se deu devido à venda de reservas no período de maior tensão geopolítica. Com o atual cenário, não é agradável para os EUA, por exemplo, manter suas reservas baixas”, lembra.

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Crise do gás

Por fim, Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social do Petróleo, defende que, apesar da possível crise econômica poder colocar um teto na demanda, há também o fator da crise do gás natural na Europa – que deve aumentar a busca por combustíveis provenientes do petróleo na região, uma vez que estes servem como alternativa.

Isso, junto com a piora dos problemas geopolíticos, são catalizadores de alta para o “ouro negro”.

“O efeito de uma possível crise, causada por conta de maiores taxas de juros, pode levar a um impacto no preço do barril, mas, para mim, por enquanto faz pouco sentido achar que teremos menores preços de commodities. É um problema de oferta”, debate.

Preços mais altos para petróleo

O Credit Suisse, em relatório divulgado nesta semana, aumentou as suas projeções para o preço do barril Brent em 2024 de US$ 70 para US$ 75 e, em 2025, de US$ 65 para US$ 70. O banco, para 2023, manteve sua projeção de US$ 85 por barril, conservadora frente ao consenso do mercado, que é de US$ 96,25.

“No curto prazo, acreditamos que o enfraquecimento da atividade econômica provavelmente impedirá a recuperação pós-Covid na demanda por petróleo, mas os preços podem receber suporte ascendente dependendo da gestão de mercado da OPEP +”, pondera o banco suíço.

Recentemente, autoridades ligadas à Opep ameaçaram cortar a produção no caso de queda dos preços – como o secretário geral da instituição, Haitham Al Ghais -, o que figuraria como mais um gatilho de alta.

“O cenário de oferta não é catastrófico. A Rússia está conseguindo vender seu petróleo para outros países, principalmente para os asiáticos. Mas está tudo muito instável e a piora da crise na Ucrânia coloca um limite na diminuição de preço”, completa Dantas.

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Por: Vitor Azevedo – InfoMoney

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