Mudanças na meta de inflação e na Lei das Estatais: bancos fazem alerta sobre impactos para os mercados

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Por mais que haja notícias desencontradas sobre se as mudanças das metas de inflação estarão na pauta da reunião desta semana do Conselho Monetário Nacional (CMN), os investidores seguem repercutindo a pressão do governo sobre o Banco Central – e fazem as suas apostas.

O encontro é o primeiro sob o novo governo e a expectativa do mercado é de que seja inserida na pauta a possibilidade de antecipar a definição das metas, que era esperada para junho. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, teria sinalizado à equipe econômica a possibilidade de aumentar o alvo de 2023 de 3,25% para 3,5% e de 2024 de 3% para 3,5%, mas ainda haveria um debate sobre os valores. Economistas e analistas de mercado destacam que a incerteza tem causado prejuízos às expectativas do mercado e aos ativos do País.

Este é o próximo evento a ser monitorado pelos investidores, com os analistas e estrategistas reticentes sobre o mercado brasileiro. Cabe destacar que, desde o fechamento do dia 25 de janeiro, em que o Ibovespa fechou a 114.270 pontos, até o fechamento de 10 de fevereiro (108.078), o índice já caiu 5,4%. Na semana passada, o dólar chegou a se aproximar dos R$ 5,30 e, ainda que tenha caído na sexta, acumulou ganhos de 1,44%, a R$ 5,22, com uma maior pressão na quinta, no auge do noticiário sobre as mudanças na meta.

O Morgan Stanley, que desde novembro está cauteloso com o mercado, destaca que, nesse cenário, segue na defensiva com relação aos ativos brasileiros.

Em seu portfólio para o Brasil, gosta de três temas diferentes. O primeiro é a reabertura econômica da China, tendo exposição às ações de Vale (VALE3), Gerdau [(ativo=GGBR4]), 3R Petroleum (RRRP3) e PRIO (PRIO3). O segundo é o cenário de altas taxas de juros por mais tempo, com exposição a Itaú (ITUB4), Porto (PSSA3) e BB Seguridade (BBSE3). Por fim, estão as ações de empresas de modelos de negócios defensivos domésticos, como Assaí (ASAI3), Hypera (HYPE3), Equatorial (EQTL3) e Vibra (VBBR3).

“Acreditamos que é muito cedo para retornar a ações de alta qualidade sensíveis às taxas de juros, como Localiza (RENT3) e Renner (LREN3); devemos ter um ponto de entrada melhor no segundo trimestre, quando o Congresso discutir a reforma tributária e a nova estrutura fiscal de longo prazo para o país”, apontam os estrategistas.

O banco americano traçou um paralelo com o governo Dilma Rousseff, em que houve deterioração do crescimento, com o período entre 2011 e 2026 sendo caracterizado pelo aumento da pressão fiscal e pela piora das perspectivas macroeconômicas para o país.

Naquele período, aponta, 1) a deterioração das variáveis macro foi gradual e estendeu-se por cinco anos e meio; 2) entre as ações domésticas, o grupo defensivo superou seus pares cíclicos. No entanto, os setores que sofreram intervenção do governo (caso de utilities, como energia e saneamento) tiveram desempenho ruim e 3) em commodities, o grupo teve um desempenho inferior devido ao cenário global (ou seja, preços mais baixos das commodities) e doméstico (ou seja, intervenção do governo). Os estrategistas acreditam que o atual ciclo econômico global deve ser mais favorável para commodities.

Em quarto lugar, os analistas apontam que as ações brasileiras estão em um múltiplo de preço sobre lucro de 6,6 vezes, o que parece atrativo. No entanto, a avaliação precisa se ajustar ao custo de capital mais alto e à provável rodada de revisões de lucros para baixo.

O que esperar da reunião do CMN

Conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos, a inserção de uma eventual alteração da meta de inflação de 2023 na reunião do CMN se encaixa em um contexto em que a independência do BC está sendo atacada, com as declarações mais recentes do Executivo sobre os juros estarem altos demais.

Essa foi uma das duas tentativas de conciliação da autoridade monetária, sendo a primeira os elogios ao pacote fiscal na Ata da 252ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada no dia 7 de fevereiro.

“Se fosse 100% independente, o Banco Central faria comentários defendendo a necessidade de manter uma política monetária apertada devido à frouxidão da política fiscal. No entanto, a fuga do confronto e a busca por uma acomodação mostram que a independência do BC é relativa. Esse relativismo traz incerteza, e a incerteza quer dizer prêmios de risco em todos os ativos financeiros”, aponta a Levante.

A casa de análise cita que, “não por acaso, a projeção para os juros também subiu”. Agora, a expectativa para a taxa Selic no fim deste ano é se 12,75%, ante os 12,50% da semana passada, segundo o Relatório Focus. E a estimativa para 2024 voltou aos dois dígitos, avançando para 10,00% ante os 9,75% da semana passada. Para comparar, há quatro semanas o prognóstico era de 9,25%.

“Nada disso é surpresa. Aumento da incerteza eleva prêmio e preços, e o resultado é a necessidade de endurecer a política monetária”, aponta.

Os economistas do JPMorgan apontam que “é crescente” a probabilidade de o Conselho Monetário Nacional alterar as metas de inflação, “o que poderia acontecer já na próxima reunião, em 16 de fevereiro”.

Mas, “independentemente da data”, agora acreditam que as metas de inflação para este e os próximos anos provavelmente serão elevadas, embora ainda não esteja claro para quanto e por que período de tempo. O resultado da mudança é visto como “altamente incerto”.

Se a meta mais alta pode, teoricamente, levar a um corte de juros mais cedo, também “estimularia outra rodada de aumentos nas expectativas de inflação de médio e longo prazo, o que exigiria uma pausa mais prolongada ou mesmo uma política monetária mais restritiva”, aponta.

Em nota em que elevou as projeções para a alta do IPCA neste ano e no próximo, o Itaú citou as incertezas sobre o atual regime monetário do Brasil, e alertou para os riscos de eventuais mudanças nas metas oficiais de inflação do país.

Agora, o banco espera que o IPCA avance 6,3% em 2023, contra 5,8% estimados antes. Para 2024, a projeção de inflação subiu a 4,2%, de 3,7% no cenário anterior.

“Incertezas sobre o compromisso da política econômica com inflação baixa, inclusive sobre a autonomia do Banco Central (BC) para perseguir as metas de inflação determinadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), têm levantado dúvidas sobre o regime monetário corrente”, disse em relatório Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

“A manobra de elevar a meta para a inflação parece arriscada, com benefícios no máximo temporários e com riscos de ocasionar uma elevação maior do que a planejada da taxa de inflação”, afirmou Mesquita.

O Itaú manteve suas projeções para o patamar da taxa Selic em 12,50% ao final de 2023 e 10,0% ao fim de 2024, mas alertou que, “se a piora das perspectivas inflacionárias continuar, o risco é de haver até mesmo uma nova alta de juros”.

O Goldman Sachs também aponta possibilidade crescente de que as metas de inflação do banco central para pelo menos 2023-2024 sejam elevadas o que, na avaliação do banco, não se justifica dado o atual ambiente de política fiscal instável. Metas de inflação mais altas não significam que as metas serão atingidas, nem taxas de juros mais baixas no curto prazo.

Para o banco, as intensas críticas ao banco central são injustificadas e contraproducentes. A pressão do governo para aumentar a meta de inflação sinaliza que as autoridades estão empenhadas em acomodar a inflação a um nível mais alto e que não estão particularmente inclinadas a ajustar a política fiscal e adotar reformas para ajudar o BC a ancorar as expectativas e levar a inflação de volta ao alvo.

“Assim, é provável que, se novas metas mais altas forem anunciadas, as expectativas de inflação se ajustem para cima, possivelmente para perto do limite superior das novas faixas de metas. A tendência ascendente nas expectativas de inflação e a pressão potencial sobre o real devem levar a uma trajetória de inflação projetada mais elevada”, avalia.

Isso implica que não haverá espaço para cortar a taxa básica de juros no curtíssimo prazo e, no extremo, pode até exigir taxas mais altas para alinhar a inflação projetada às novas metas.

Mudar a meta para 2023 não é o que mais preocupa o Goldman, uma vez que é pouco provável que a meta seja atingida, mas mudar a de 2024 teria mais consequências.

“A meta atual para 2024 é de 3,00%. O mercado espera que a inflação global chegue perto de 4,00% até o final de 2024 e os modelos de previsão do BC mostram que, em um cenário sem cortes nas taxas ao longo de 2023-2024, a inflação basicamente se realinharia com a meta de 3,0% até o final de 2024. Se a meta para 2024 aumentar, as expectativas de inflação provavelmente também aumentariam, levando a uma trajetória de inflação projetada condicional mais elevada, implicando que não há espaço tangível para cortes de juros responsáveis no curto prazo”, aponta.

O banco ainda destaca que, mesmo independente, a credibilidade do  BC pode ser prejudicada por nomeações não técnicas, já que seus diretores e o presidente são indicados pelo governo e, em última análise, ratificados pelo Senado.

“Um BC capturado por interesses políticos especiais perde credibilidade, mesmo que seja independente, e a perda de credibilidade está associada a dados de inflação mais altos, e também inflação e volatilidade maiores”, aponta.

Nas próximas semanas, dois diretores do Copom serão substituídos. Assim, a chave para os mercados é saber se os dois novos diretores serão selecionados com base em critérios técnicos e experiência profissional relevante ou com base em critérios alheios à gestão da política monetária, afirma.

Lei das estatais também no radar do mercado

A Levante também destaca a notícia de que, durante o fim de semana, o Planalto e a cúpula do Senado chegaram a um consenso e o projeto que altera alguns pontos da Lei das Estatais – aprovado a toque de caixa, no fim do ano passado, sob liderança do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) – deve voltar a tramitar em março.

Segundo interlocutores de ambas as Casas, deve haver novas mudanças no projeto durante a análise no Senado e a matéria deve retornar para a Câmara para uma última confirmação. No texto aprovado pelos deputados, houve redução de 3 anos para 30 dias do intervalo “para indicação, à presidência ou direção, de empresas públicas de pessoas que tenham atuado na estrutura decisória de partidos ou em algum trabalho vinculado a campanhas eleitorais”

A polêmica da redução drástica da quarentena ganhou maior destaque por causa da vontade de Lula em indicar Aloizio Mercadante para o BNDES e o senador Jean Paul Prates (PT-RN) para o comando da Petrobras (PETR3;PETR4). O projeto de lei, contudo, também seria de interesse do Centrão, que visa nomear políticos para
cargos nos conselhos e diretorias de empresas públicas. Com os interesses alinhados, governo e Congresso fizeram acordo para o texto avançar.

“Agora, as discussões acerca do teor e do alcance das mudanças devem voltar para o radar dos mercados, sob risco de maiores retrocessos na governança das estatais e consequente reação negativa dos ativos”, ressalta a Levante. O cenário-base da casa prevê a aprovação do texto no decorrer de março, com aumento do período de quarentena (30 dias, na versão atual do projeto). O Bradesco BBI também reforça que quaisquer mudanças na Lei das Estatais serão vistas como negativas pelo mercado.

 

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Por: Lara Rizério – InfoMoney

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