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Em carta, presidente do Banco Central justifica estouro da meta de inflação em 2022

Campos Neto pode continuar no BC no governo Lula

Com a divulgação da alta de 0,62% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em dezembro de 2022 e de que o último ano foi encerrado com a inflação em 5,79%, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, publicou uma carta justificando o estouro da meta. Entre as causas apontadas, estão a elevação do preço do barril de petróleo e a retomada da economia.

“A política monetária, que, em 2021 já havia passado do estímulo extraordinariamente elevado para o território contracionista, avançou substancialmente no terreno contracionista em 2022″, escreveu o presidente do BC.

Na carta, Campos Neta ainda destaca que as causas de a inflação fechar acima da meta foram:

  • inércia da inflação do ano anterior;
  • elevação dos preços de commodities, em especial do petróleo;
  • desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais;
  • choques em preços de alimentação, resultantes de questões climáticas;
  • retomada na demanda de serviços e no emprego, impulsionada pelo acentuado declínio da quantidade de casos de covid-19 e consequente aumento da mobilidade.

Os fatores citados acima se traduziram em variações díspares de preços entre diferentes grupos. Em 2022, os preços livres aumentaram 9,39%, enquanto os preços administrados recuaram 3,83%.

Apesar disso, o presidente do Banco Central também afirmou que outros fatores evitaram que o estouro da meta da inflação fosse ainda maior. Foram eles:

  • redução na tributação sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações;
  • comportamento da bandeira de energia elétrica, que passou de escassez hídrica para bandeira verde ao longo do ano passado;
  • melhora do câmbio.

Estouro de meta da inflação pelo segundo ano consecutivo

Não é a primeira vez que há o estouro da meta. No ano anterior, Campos Neto previu inflação alta, mas afirmou na carta a Guedes que ela não ultrapassaria os 5%.

Na ocasião, o presidente do BC escreveu que a inflação em 2021 foi em grande parte “importante”, fruto da desorganização das cadeias produtivas globais fruto causada pela pandemia de Covid-19. Ele também citou a bandeira de escassez hídrica e a escalada dos preços do petróleo como fatores que pressionaram para cima a inflação.

Em dezembro de 2022, a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 0,62%, compondo a alta anual de 5,79%. Segundo o IBGE, o maior impacto no acumulado do ano ficou com o grupo Alimentação e bebidas, que subiu 11,64% em 2022 e foi responsável por 2,41 p.p. do índice.

BC: Aumento do juro real neste ciclo é o maior de todo o regime de metas

Após o IPCA ter fechado 2022 com alta de 5,79%, acima do teto da meta pelo segundo ano consecutivo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alegou em carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que o aumento da taxa de juros real ex-ante no ciclo atual é o maior ocorrido durante todo o regime de metas para a inflação, iniciado em 1999.

Hoje, a taxa Selic está em 13,75% ao ano, após o processo de alta de juros mais longo da história do Comitê de Política Monetária (Copom). No documento, Campos Neto também ressaltou que o BC tem definido a Selic e vai continuar a fazê-lo, com vistas ao cumprimento das metas de inflação.

Durante o processo de alta da Selic, Campos Neto, na carta, destacou que a política monetária passou do campo expansionista para o território contracionista, com o juro real neutro atingindo 7,8% no último trimestre de 2022, acima da taxa neutra considerada pela autoridade monetária, de 4,00%.

Considerando as estimativas da última pesquisa Focus, o BC calcula que a taxa real de juros permanece em 7,8% no primeiro trimestre de 2023 e então inicia trajetória declinante, atingindo 6,9% ao final de 2023, 5,2% ao final de 2024 e 4,7% ao final de 2025, ainda acima da taxa real neutra.

“A elevação da meta para a taxa Selic e as expectativas dos agentes sobre seus movimentos futuros, coordenadas pela comunicação de política monetária, levaram a um aumento expressivo da taxa real de juros ex-ante”, disse o presidente do BC na carta, lembrando que o ajuste da Selic foi iniciado em 2021 e se estendeu ao longo de 2022 diante do aumento das projeções e estimativas de inflação no horizonte relevante. “Durante esse ajuste, o Copom enfatizou a necessidade de o ciclo de aperto monetário avançar significativamente em território contracionista.”

O BC também lembrou que, após encerrar o ciclo, “enfatizou que se manteria vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado seria capaz de assegurar a convergência da inflação”.

“Também ressaltou que os passos futuros da política monetária poderiam ser ajustados e não hesitaria em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorresse como esperado.”

Campos Neto ainda destacou o papel da comunicação do BC ao longo de 2022, que buscou o “melhor entendimento e a maior transparência do processo decisório presente e futuro” e procurou coordenar as expectativas e levar ao aperto requerido das condições financeiras.

O IPCA, o índice oficial de inflação, ficou 0,79 ponto porcentual acima da banda superior do objetivo a ser perseguido pelo BC (5,00%). Em 2021, o desvio ante o teto da meta (5,25%) foi de 4,81 pp, a maior diferença desde 2002.

A carta ao presidente do Conselho Monetário Nacional (CMN) é uma exigência do regime de metas, criado em 1999, quando a inflação fica fora do intervalo de tolerância, para explicar as razões do descumprimento e indicar providências para o retorno à meta, assim como o prazo para que isso ocorra.

Desde 1999, o documento já foi escrito em outras seis oportunidades, sendo que em uma única vez em virtude de a inflação ter ficado abaixo do limite inferior da meta, em 2017, quando Ilan Goldfajn era presidente do BC. Além de 2021, o limite superior da meta foi rompido em 2001, 2002, 2003 e 2015.

Expectativas do Banco Central para 2023

Para 2023, conforme o boletim Focus divulgado pelo Banco Central, é esperado que a inflação ao consumidor medida pelo IPCA fique em 5,36% — percentual da meta de 3,25% — e acima do teto de 4,75% estabelecido para o intervalo de tolerância.

Campos Neto reconheceu que a inflação em 2023 deve se manter superior à meta estabelecida, considerando sua projeção condicional de 5,0% para este ano, segundo a carta aberta enviada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para justificar o descumprimento da meta em 2022. O limite de tolerância superior em 2023 é de 4,75%. Mas, considerando as projeções para 2024 (3,0%) e 2025 (2,8%), o BC argumenta que o “cenário é de convergência da inflação para as suas metas”.

Apesar disso, o BC estima que a inflação deve continuar em trajetória de queda ao longo deste ano, terminando abaixo do resultado de 5,79% em 2022, que superou o teto da meta em 0,79 ponto porcentual. “A inflação ainda se mantém superior à meta, em virtude principalmente da hipótese do retorno da tributação federal sobre combustíveis nesse ano e dos efeitos inerciais da inflação de 2022”, explicou o BC.

O governo Lula ampliou a desoneração da gasolina e do etanol até o fim de fevereiro, mas sobre diesel e gás de cozinha a taxa zero se mantém até o término do ano.

Por outro lado, Campos Neto afirmou que a expectativa é de que os efeitos da reoneração dos combustíveis e da inércia sejam contrabalanceados em parte pela política monetária contracionista. “Embora não de forma integral, em virtude das diferenças temporais entre os impactos dos choques, de prazo mais curto, e os efeitos da política monetária, mais concentrados no médio prazo.”

O presidente do BC ainda disse que o Comitê de Política Monetária (Copom) tem dado ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente, que “suaviza os efeitos diretos decorrentes das mudanças tributárias, mas incorpora os seus impactos secundários”.

“O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”, disse, na carta, repetindo as comunicações do Copom, e citando que o Boletim Focus também considera redução da inflação, embora em menor magnitude que o Banco Central.

Com Estadão Conteúdo



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Por: Janize Colaço – Suno

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