O Citi cortou sua exposição a riscos no Brasil, após reavaliar suas posições no país, em meio às falas de Lula que repercutiram no mercado financeiro nesta quinta-feira (10). Em relatório, o banco disse que o mercado financeiro pode ter se enganado sobre o presidente eleito para 2023.
“O mercado parecia ter se convencido de que o presidente Lula seria fiscalmente ortodoxo. O fluxo de notícias mais recente agora coloca essa hipótese em dúvida”, diz o chefe de estratégia de mercados emergentes do Citi Research, Dirk Willer, em relatório do banco.
A fala do representante do Citi se deu após a forte queda das ações brasileiras nesta última quinta-feira, reflexo do crescente temor em relação a um possível descontrole fiscal no governo Lula.
O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, vem criticando as atuais regras fiscais do país. Além disso, por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), Lula pretende inserir gastos fora do teto para o ano que vem.
Outro fator que repercutiu entre os investidores é a formação da equipe de transição de governo, sobretudo após o nome do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, ter sido incluído na lista.
A queda do Ibovespa após as falas de Lula
O Ibovespa fechou a sessão da última quinta-feira em forte queda de 3,35%, a maior desvalorização diária desde novembro de 2021. Na ocasião, a cotação do dólar terminou em alta superior a 4%, a mais relevante desde o começo da pandemia. Por fim, os juros futuros também dispararam.
Em relação à queda do Ibovespa, Willer destacou que os ativos de renda variável estavam muito atrativos no Brasil antes desse acontecimento. O especialista acredita que “a alocação provavelmente está saturada, o que pode levar a um tempo de reação mais longo do que apenas um dia”.
Um dos fatores que pesaram para que o Citi cortasse suas exposições no Brasil foi justamente esse contexto desfavorável construído após as falas de Lula.
Willer explica que “o fato de a notícia chegar num momento em que o resto do universo emergente está recebendo forte apoio de um índice de preços ao consumidor dos EUA abaixo do esperado não ajuda. Por isso, passamos a ficar de lado e cortamos nosso risco Brasil”.
Enquanto as bolsas lá fora viviam um intenso otimismo após a divulgação da inflação americana abaixo do esperado, o Brasil passava por um momento oposto. Além dos fatores políticos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) veio acima do teto das projeções do mercado, a 0,59% em outubro.
Assim, o Citi diminuiu as posições vendidas do banco no par dólar australiano/real. Na carteira de títulos de países emergentes do banco, o Brasil voltou a ter uma posição de neutralidade.
Apesar das observações colocadas e do corte realizado pelo banco em sua exposição no Brasil, Willer diz que a visão do Citi é de que o governo de Lula pode eventualmente ter uma posição mais moderada em relação ao regime fiscal.
Por: João Vitor Jacintho – Suno