Avaliação de impacto dos juros na economia ganhará relevância na reunião do Fed após quebra de bancos

A próxima reunião do Fomc, o comitê de política monetária americano, que sempre se configura como o evento mais importante da semana, será realizada dos dias 21 e de março com uma expectativa redobrada do mercado financeiro. Todos vão querer saber até que ponto a atual crise bancária nos EUA pode fazer os diretores do Fed darem mais ênfase aos efeitos da alta dos juros sobre a economia do que ao combate à inflação.

Até a semana passada, estava prevalecendo a estratégia de analisar os dados macroeconômicos e as declarações públicas de integrantes do colegiado para projetar as futuras decisões.

Foi por isso que causaram furor no mercado os depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, no Senado e na Câmara, apontando que as condições da economia – em especial a inflação de serviços persistente e o mercado de trabalho aquecido – iriam exigir a adoção de  juros maiores e por mais tempo.

Muitos viram na fala indícios de que a autoridade monetária poderia reacelerar o atual ciclo de juros, optando uma alta de 50 pontos-base na semana que vem, após o Fed ter optado por uma elevação mais suave, de 25 pb em 1° de fevereiro. Ao mesmo tempo, as projeções de uma taxa terminal até 50 pontos mais alta que a precificada antes também cresceram.

Muito dessa visão mudou com a quebra de dois bancos regionais e de nicho nos últimos dias. A derrocada do Silicon Valley Bank (SVB), com foco em startups e empresas de venture capital, e do Signature Bank, muito voltado ao mercado cripto, a despeito dos erros de gestão financeira, levantaram questões se a velocidade da alta de juros não estaria cobrando um preço alto demais.

O Goldman Sachs foi o primeiro a mudar sua projeção sobre a decisão do Fed. Em relatório a clientes, o economista-chefe do banco, Jan Hatzius, disse não esperar mais por uma alta e apontou para o “estresse recente no sistema bancário” como a razão por trás da previsão. Antes, o banco acreditava que o Fed iria manter o ritmo de 25 pontos-base inaugurado em fevereiro.

Mais cedo o economista Mohamed El-Erian escreveu em sua conta no Twitter que “agora, estamos em um mundo diferente” a apontou que os mercados já estavam apostando que o Fed poderia recuar de sua luta contra a inflação. Para ele, melhor saída seria uma alta de 25 pontos-base, “explicando que tem outras ferramentas para garantir a estabilidade financeira”.

Aula Magna gratuita
Seu segundo salário com dividendos
Descubra, com o Thiago Nigro, como montar uma carteira de investimentos focada em dividendos
Inscreva-se

Roberto Motta, estrategista da Genial Investimentos, disse numa live na manhã desta segunda-feira (13) que o comportamento do mercado de juros já mostrou a virada de mão, com as taxas dos títulos do Tesouro dos EUA de dois anos experimentando a maior queda desde a “Black Monday” de 1987.

“A discussão não é mais inflação. A discussão é quão machucada a economia americana está depois dessa subida de juros na velocidade que foi”, comentou.

Em entrevista ao Radar InfoMoney, o estrategista-chefe e head de Research da XP Investimentos, Fernando Ferreira, mostrou opinião semelhante, destacando que o mercado de ações nos EUA estava relativamente tranquilo nesta segunda-feira, enquanto o de renda fixa estava bastante volátil.

Para ele, a precificação caminha para uma alta de 25 pontos-base na semana que vem e depois uma interrupção, com possibilidade de início de cortes em setembro, um verdadeiro “cavalo de pau” em relação ao que se projetava na semana passada.

Efeitos defasados

O economista-chefe da Capital Economics, Neil Shearing, lembrou hoje em artigo que mais da metade dos efeitos da alta de juros sobre a economia real nos mercados desenvolvidos ainda não foram sentidos. E que impacto de taxas mais altas no setor financeiro também aparecem com defasagem.

“Este já foi o ciclo de aperto monetário mais agressivo em quatro décadas e quando as taxas de juros subirem tão acentuadamente, não deve ser uma surpresa se algumas coisas quebrarem”, comentou.

Ele escreveu ainda que a semana passada começou com Jerome Powell sugerindo que a força dos dados recentes poderia exigir uma resposta política ainda mais agressiva e terminou com o colapso de dois bancos intermediários dos EUA.

“Mesmo que as autoridades tenham sucesso em colocar um ‘firewall’ em torno dos problemas do SVB e do Signature Bank, os atrasos com que a política opera são uma razão para adotar uma abordagem mais gradual para o aperto da política a partir daqui”, sugeriu.

O UBS, por sua vez, argumentou que duvida que contágios da situação do SVB possam comprometer o foco do Fed na inflação. O banco disse que ainda vê à frente aumentos de 25 pb em março, maio e junho, para um pico de 5,50% nas taxas dos Fed Funds.

The post Avaliação de impacto dos juros na economia ganhará relevância na reunião do Fed após quebra de bancos appeared first on InfoMoney.



Leia na integra…

Por: Roberto de Lira – InfoMoney

Deixe um comentário