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Qual a tendência para o câmbio após mensagem de mais juros nos EUA?

Muita volatilidade e tendência de depreciação do real ante o dólar. É assim que os analistas projetam o mercado de câmbio para as próximas semanas e meses. A explicação fundamental é o fluxo de recursos se dirigindo para os Estados Unidos, pela aceleração do ciclo de alta dos juros promovido pelo Fed.

Hoje, a divulgação do índice de preços ao consumidor dos EUA, o PCE, medida observada com muita atenção pelo Fed, mostrou um avanço da inflação em agosto acima do esperado, reforçando a tese entre os analistas da necessidade de aperto monetário mais duradouro.

Em meio a isso, dúvidas sobre a recuperação da China (com todos os seus efeitos subsequentes), possibilidade de recessão na Europa e o resultado nas eleições no Brasil colocam mais pimenta na mistura.

Nesta semana, o US Dollar Index, conhecido pela sigla DXY, atingiu 114 pontos, o mais alto em 20 anos. Este índice, que em janeiro estava em 96 pontos, compara o valor do dólar com uma cesta de moedas de países parceiros comerciais dos EUA (euro, iene, libra esterlina, dólar canadense, coroa sueca e franco suíço).

O movimento se explica pelo chamado diferencial de juros. Ou seja, quando a taxa sobe, valoriza a moeda nacional.

“A tendência é de fortalecimento do dólar em relação às outras moedas. O Fed passou a mensagem que mudou o patamar (dos juros)”, destacou Tatiana Pinheiro, economista chefe de Brasil na gestora Galapagos Capital.

Ela lembrou que isso ficou explícito na divulgação do gráfico de pontos (“dot plot”), que traz periodicamente opiniões dos membros que integram a Fed sobre as perspectivas para a trajetória das taxas.

Na reunião de 21 de setembro, a taxa de referência foi para 4,4% para este ano e 4,6% em 2023. Nas projeções de junho, as estimativas eram de 3,4% e 3,8%, respectivamente.

Para Leonardo Santana, sócio e analista da Top Gain, a busca por proteção nos títulos americanos – que impacta negativamente a Bolsa – deve perdurar pelo menos até 2023.

“Pode dar uma aliviada aqui e ali, mas enquanto não tiver uma perspectiva de um controle de inflação lá nos EUA isso tende a perdurar”, analisou.

Para ele, o mercado vai olhar com lupa não só os dados de inflação, mas também os de geração de empregos, entre outros, para ver quão próxima está e profunda será a recessão americana.

Para Fábio Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, ainda que a tendência seja essa, há muita dúvida no ar. “Se o Fed vier mais ‘hawkish’ como está vindo, isso deve piorar aqui no nosso País. E se o quadro também piorar na Europa, com até a possibilidade de uma interrupção do fornecimento do gás para a Europa isso pode fazer o câmbio ficar mais depreciado”, alertou.

A possibilidade é de que o Boletim Focus, compilado pelo Banco Central e que traz projeções de dezenas de atores do mercado financeiro, passe nas próximas semanas a espelhar essa nova realidade, mostrando um pouco da depreciação esperada. Há nove semanas seguidas, a cotação do dólar ante o real está estacionada em R$ 5,20 no Boletim.

Gonçalvez afirma que o Focus “se abstém” de dar previsões exatamente pelo cenário incerto. “A previsão que se pode fazer é que o dólar vai continuar estressado porque o risco País aumenta a cada notícia relacionada a fatores como guerra (da Rússia com a Ucrânia), Fed e eleições”, afirmou.

Além de todo o contexto externo, com o custo da desinflação global cobrando seu preço na atividade e na redução da demanda, a taxa de câmbio no Brasil também recebe contribuição da incerteza política interna.

Tatiana, da Galapagos, diz que, independentemente de quem sair vitorioso na eleição presidencial, será preciso uma sinalização de como ficará a política fiscal e a monetária no próximo governo. “O fator interno também é importante para saber como o mercado internacional nos vê”, alertou.

Responsabilidade fiscal

Um relatório da Wagner Investimentos divulgado nesta semana destacou que há um risco de a moeda retornar para R$ 5,50 – eventualmente até um pouco mais – em algum momento nos próximos 90 dias devido à agenda muito complexa, que inclui eleições, remessa de dividendos e até a aprovação do Orçamento para 2023, “incluindo neste tema eventual PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para derrubar o teto de gastos”.

Para os analistas, uma prova de que a questão fiscal pode fazer preço no câmbio foi dada na semana passada, quando o dólar caiu para menos de R$ 5,15 apenas pela notícia de que o ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles estava anunciando apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas.

Mesmo sem a certeza de vitória de Lula e nenhuma confirmação que Meirelles poderia fazer parte da equipe econômica, seu nome emprestou credibilidade à tese da responsabilidade fiscal.

Sobre como o câmbio pode se comportar à frente, as projeções divergem de acordo com o balanço de riscos que cada casa faz. A Galapagos Capital, por exemplo, trabalha como uma cotação de R$ 5,30 para este ano e R$ 5,50 para o ano que vem.

Os motivos são que está sendo dado um peso maior à possibilidade de o Fed estender se ciclo de alta até maio. Nesse cenário, a desaceleração da economia global seria mais intensa e os preços da commodities em dólar iriam sofrer queda.

Santana, da Top Gain, também enxerga à frente esse risco na demanda externa, especialmente se a China demorar muito a voltar a crescer mais fortemente e o quadro na Europa de agravar demais no inverno por interrupção do envio do gás russo.

No entanto, com a China crescendo e o futuro governo demonstrando ser fiscalmente responsável, existe até a possibilidade de o dólar cair abaixo de R$ 5,00 no segundo semestre.

A XP Investimentos está prevendo que o dólar feche este ano em R$ 5,00, mas que o câmbio deprecie um pouco mais no ano que vem por conta desses fatores e fique em R$ 5,30.

A economista Tatiana Nogueira lembra que o Brasil teve ganhos recentes em seus termos de troca, com muito fluxo sendo direcionado para o País. “O Investimento Direto estrangeiro está muito forte e tem financiado a conta corrente”, lembrou.

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Por: Roberto de Lira – InfoMoney

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