O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou nesta quarta-feira (31) por uma comunicação neutra, reforçando que o atual ritmo de corte de 50 pontos-base na Selic continua a ser o mais adequado para conduzir a inflação em direção à meta. Os economistas avaliam que a falta de novidades também foi um reconhecimento que o cenário atual ainda exige cautela. O motivo é que, mesmo com a continuidade da desinflação, as medidas de preços subjacentes inspiram cuidados.
Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, comentou que a decisão de hoje estava extremamente sinalizada pelo BC e que, portanto, não vai acontecer algum processo de revisão de projeções para a Selic ao final do ano. – A SulAmérica, por exemplo, estima os juros em 9% ao final do ciclo de cortes em 2024.
Em entrevista ao canal do InfoMoney no Youtube, a economista destacou que o cenário mais benigno para a inflação observado entre outubro e dezembro parece ter ficado ara trás. Naquela época, lembrou, o país estava vivendo um momento de desaceleração da atividade econômica, num cenário pró-desinflação.
No final do ano passado, havia uma assimetria nos riscos que, pelo menos, abria uma porta para o BC discutir uma aceleração dos cortes. “Hoje, esse cenário mudou e a gente começou a ver alguns sinais um pouco mais chatos da inflação. E alguns sinais que podem preocupar um pouco o BC quando a salários, tem toda uma questão de inflação de serviços. A gente vê riscos mais balanceados”, afirmou.
Luis Cezário, economista chefe da Asset 1 Investment Company, acredita que o BC reforçou a mensagem de que continua confortável com a estratégia de reduzir a taxa Selic gradualmente em meio a um cenário no qual as expectativas de inflação permanecem desancoradas, a economia doméstica apresenta baixa ociosidade e o cenário internacional continua com incerteza elevada.
A economista chefe da CM Capital, Carla Argenta, também avaliou que, diante da baixa volatilidade da conjuntura internacional e da manutenção do cenário-base após eventos atípicos, o BC mantém sua estratégia de reduzir a taxa de juros em 50 pontos nas próximas reuniões, que tem se mostrado correta até aqui.
“A decisão de política monetária dos EUA, que afastou a possibilidade de queda nos juros em breve, não altera a forma como o BC vislumbra a conjuntura macroeconômica e permite a manutenção da condução da política monetária”, defendeu Carla.
Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, também deu destaque na defesa que a autoridade monetária fez sobre a necessidade de “serenidade e moderação”, exatamente quando essa ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo é apenas parcial. “O comunicado também manteve de fora do balanço de riscos a discussão fiscal. No entanto, ainda ressalta a importância da execução da meta na ancoragem das expectativas.”
Para Adriana Dupita, economista sênior para a Bloomberg Economics, a novidade no Copom de hoje veio do tom ligeiramente mais dovish do comunicado, ao reconhecer um ambiente global menos adverso e indicar que a inflação doméstica subjacente já se aproxima da meta. “Não é o suficiente para estimular apostas em uma aceleração dos cortes, mas parece bastante consistente com nossa expectativa de novos cortes de 0,5 ponto pelo menos nas três primeiras reuniões de 2024”, afirmou.
Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, viu uma comunicação “monocromática, sem muita cor” por parte do Copom. Para ela, o BC teria insumos até para subir um pouco suas projeções de inflação para 2024 e 2025, mas não o fez, mantendo as estimativas em 3,6% e 3,3%, respectivamente.
Um destaque citado pela economista foi que o Copom passou a reconhecer que 2025 já entra com maior peso no horizonte relevante do BC.
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Por: Roberto de Lira – InfoMoney