As ações e títulos de dívida de bancos reduziam perdas, mas seguiam em queda nesta segunda-feira (20), depois que a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, com apoio da Suíça, acabou criando preocupações entre os investidores sobre a saúde do setor no mundo.
As ações do UBS chegaram a cair 16% no início do pregão, a maior queda em um dia desde 2008, em meio a preocupações entre os investidores sobre os benefícios de longo prazo da transação e as perspectivas para os bancos na Suíça, um país que já foi visto como modelo de bancos sólidos.
Em um pacote elaborado por reguladores suíços e apresentado no domingo, o UBS pagará 3 bilhões de francos suíços (cerca de US$ 3,25 bilhões) pelo Credit Suisse, fundado há 167 anos, e assumirá prejuízo de até US$ 5,4 bilhões.
O foco dos investidores agora mudou para o grande revés que alguns detentores de títulos de dívida do Credit Suisse sofrerão com a aquisição pelo UBS, o que aumentou a ansiedade sobre outros riscos importantes, incluindo contágio e o estado frágil dos bancos regionais dos Estados Unidos.
As ações dos bancos na Europa operavam em queda, mas reduziam as perdas. O índice que reúne ações das principais instituições financeiras na região caía 1,3% às 8h39 (horário de Brasília), depois de chegar a recuar 6% mais cedo. Os gigantes alemães Deutsche Bank e Commerzbank caíam 2,4% e 2,8%, respectivamente, enquanto o francês BNP Paribas, caía 1,9%. Mais cedo os papéis chegaram a desabar entre 6% e 11%.
Esses movimentos bruscos seguiram-se a um dia de fortes vendas nos mercados financeiros asiáticos, à medida que o otimismo inicial dos investidores sobre os esforços oficiais para conter uma crise bancária rapidamente evaporou.
“Deve ficar claro que depois de mais de uma semana de pânico bancário e duas intervenções organizadas pelas autoridades, esse problema não vai desaparecer. Muito pelo contrário, tem se tornado global”, disse Mike O’Rourke, estrategista-chefe de mercado no Jones Trading.
As ações do Credit Suisse despencaram mais de 50%, refletindo a enorme perda que seus acionistas verão em seus investimentos no banco.
“No início desta manhã, pensei que poderíamos olhar para um pequeno rali de alívio, antes da reunião do Fed
(mas) isso não parece ser o que está acontecendo. Parece que ainda estamos preocupados com o setor financeiro”, apontou Rob Carnell, chefe regional de pesquisa do ING.
Sob o acordo, o regulador suíço decidiu que os títulos adicionais de nível 1 do Credit Suisse – ou títulos AT1 – com um valor nominal de US$ 17 bilhões serão avaliados em zero, o que irritou alguns dos detentores da dívida que pensavam que estariam mais protegidos do que acionistas no acordo de aquisição anunciado no domingo.
Os títulos adicionais de nível 1 do Credit Suisse caíram acentuadamente no início dos negócios na Europa, com uma série de emissões denominadas em dólares ofertadas a 2 centavos de dólar, mostraram dados da Tradeweb.
Para Octavio Marenzi, CEO da Opimas, “o desastre do Credit Suisse terá sérias ramificações para outras instituições financeiras suíças. Um país com reputação de gestão financeira prudente e sólida regulamentação (teve o setor) foi enxugado”, avalia.
Neil Shearing, economista-chefe do grupo Capital Economics, apontou que uma aquisição completa do Credit Suisse pode ter sido a melhor maneira de acabar com as dúvidas sobre sua viabilidade como negócio, mas “o diabo estará nos detalhes” do acordo de compra do UBS.
“Um problema é que o preço relatado de US$ 3,25 bilhões equivale a aproximadamente 4% do valor contábil e cerca de 10% do valor de mercado do Credit Suisse no início do ano”, destacou ele em nota.
“Isso sugere que uma parte substancial dos ativos de US$ 570 bilhões do Credit Suisse pode ser prejudicada ou percebida como estando em risco. Isso poderia desencadear um novo nervosismo sobre a saúde dos bancos”, avaliou.
Ação coordenada
A nova queda nas ações dos bancos ocorre após os investidores desdenharem das promessas dos principais bancos centrais no fim de semana sobre fortalecimento da liquidez em dólares para estabilização do sistema financeiro.
Em uma resposta global não vista desde o auge da pandemia, o Federal Reserve disse que se juntou aos bancos centrais de Canadá, Inglaterra, Japão, União Europeia e Suíça em uma ação coordenada para aumentar a liquidez do mercado.
O Banco Central Europeu prometeu apoiar os bancos da zona do euro com empréstimos, se necessário, acrescentando que o resgate do Credit Suisse era “essencial” para restaurar a calma.
O setor bancário entrou em crise no início de março com o colapso dos bancos norte-americanos Silicon Valley Bank e Signature Bank.
Questões no radar
O acordo de compra do Credit Suisse tornará o UBS Switzerland a economia suíça mais dependente de uma única instituição. A segunda-feira parecia normal nos principais escritórios do Credit Suisse na Ásia, mas os funcionários que chegavam ao trabalho em Hong Kong e Cingapura se preocupavam com reduções e retenção de negócios.
Roger Nordmann, líder do Social Democratas (SP) no parlamento suíço, disse que o acordo de resgate cria um enorme risco para a Suíça e o UBS, e culpou a liderança do Credit Suisse pela falência do banco.
“O que aconteceu é terrível para a credibilidade da Suíça”, disse ele.
(com Reuters)
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Por: Equipe InfoMoney – InfoMoney