O Méliuz (CASH3) realizou na manhã desta quarta-feira (9) sua teleconferência com analistas, na qual comentou seus resultados do terceiro trimestre de 2022, divulgados na noite de ontem, e também deu sinalizações de o que fará daqui para frente. Como destaque nas falas dos executivos, um espírito de cautela e a intenção da empresa de focar em ganho de rentabilidade – o que, contudo, não aplaca o otimismo dos diretores.
Para a Black Friday, por exemplo, o Méliuz está otimista, mesmo com a recente mudança de foco operacional.
“Em relação ao take total, a Black Friday é, historicamente, um período com aumento para o Méliuz e estamos otimistas”, disse André Amaral, diretor de estratégia da companhia. “Nosso foco continua sendo a manutenção das taxas, porém. No quarto trimestre do ano passado, ela ficou abaixo de 1%. Nesse ano, contudo, a expectativa é manter e otimizar esse número, com mais investimentos de parceiros. Quando otimizamos o take rate, porém, temos um crescimento volume bruto de mercadorias [GMV, na sigla em inglês] não tão expressivo”.
No terceiro trimestre deste ano, a take rate, taxa cobrada pela empresa sobre as transações, ficou em 2,4% – ante uma média de 0,4% durante a Black Friday do ano passado.
O Méliuz enxerga que essas medidas estão em um momento oportuno para acontecer, com a empresa sendo beneficiada pelo cenário macro e também pelas movimentações de seus principais concorrentes.
“Google e Facebook estão cobrando caro por anúncios. Está difícil, para empresas, fechar investimentos nesse canais digitais. A mesma coisa acontece com os canais tradicionais, como a televisão”, defendeu André Amaral, diretor de estratégias da companhia. “Está cada vez mais atrativo fazer parcerias com canais como o nosso e nós conseguimos provar para os parceiros, através de dados, que é efetivo pagar pelo serviço”.
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Méliuz opta por cautela em todas os seus braços
Além de estipular cautela e preferir rentabilidade na frente de cashback, os executivos do Méliuz deixaram claro também que pretendem priorizar a segurança nas demais iniciativas da companhia.
“Na frente de cartão de crédito, resolvemos começar devagar porque precisamos fazer ajustes nas políticas de crédito mas também no aplicativo, nas cobranças, na comunicação e no onboard. É isso que estamos fazendo agora”, explicou Davi Holando, diretor do braço de serviços financeiros.
A companhia, então, afirmou que está, por enquanto, deixando pouco dinheiro na mesa nesta frente, com sua carteira crescendo pouco – mas que isso é algo buscado pela própria empresa.
“Na hora que chegarmos ao ‘estado da arte’, aceleraremos nosso crescimento. Não queremos ter surpresas mais à frente”, comentou Holanda. ““Acompanhamos indicadores e todos os nossos estão abaixo daquilo que o restante do mercado apresenta. “Temos uma lista de mais de um milhão de possíveis usuários para oferecermos o serviço de cartão de crédito, mas, por enquanto, optamos por uma parte pequena dela”, acrescentou Gabriel Loures, diretor de crescimento e de novos negócios.
No cartão de crédito, o Méliuz fechou o terceiro trimestre com 23,5 mil emitidos. Na conta digital, o número foi de 1,7 milhão.
Nesta frente, a empresa comentou ainda que estuda um possível spin off do seu braço financeiro.
De acordo com Luciano Valle, diretor financeiro, o foco é destravar valor, com o Méliuz buscando acesso a capital para continuar crescendo. O processo, porém, será feito apenas “sobre as condições corretas e favoráveis”.
“Entendemos que o nível de maturidade vem crescendo na operação como um todo e a medida que isso for acontecendo, vamos aumentando o nível de divulgação dos serviços”, explicou Valle.
Quanto às fusões e aquisições, por fim, os executivos defenderam que o Méliuz continuará a ser conservadora, mantendo uma boa posição de caixa – com foco, inclusive, no fim da queima deste.
“No caso dos M&As [fusões e aquisições], o viés é muito mais a procura por oportunidades para ajudar nossas operações. No momento em que estamos, temos uma diminuição do número de oportunidades e não estamos tão ativos como estávamos”, disse o CFO.
Analistas veem desafios
Enquanto a empresa destaca uma maior cautela, as ações registram uma sessão de queda na Bolsa, com baixa de 8,13%, a R$ 1,13, às 12h50 (horário de Brasília) na sessão desta quarta.
O Bradesco BBI destacou o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ainda sob pressão, negativo em R$ 40 milhões, impacto pelos maiores gastos operacionais. Excluindo o Bankly, o dado ficaria negativo em R$ 15,6 milhões.
“Embora reconheçamos os esforços da empresa para melhorar sua lucratividade, os riscos de execução ainda são aparentemente altos, e uma reclassificação significativa das ações pode vir mais à frente”, avaliam os analistas.
A XP, por sua vez, aponta que, embora a empresa tenha entregue mais um trimestre de crescimento robusto de suas operações, vê o resultado no 3T22 como negativo, pois voltou a apresentar custos e despesas crescentes, o que levou a um prejuízo líquido de R$ 18,0 milhões, abaixo do consenso e das estimativas da casa para o 3T22.
O Itaú BBA viu os números como neutros, destacando que a empresa novamente enfrentou um cenário mais adverso devido à desaceleração do e-commerce no Brasil juntamente com alguns meses de deflação. O volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) total do Brasil aumentou modestos 7% no ano, queda de 1% na base trimestral. No lado positivo, o take-rate líquido veio em 2,4%, acima de 1,3% no 3T21 e 2,1% no 2T22, com empresa focada em melhorar suas margens.
“No geral, os resultados foram suaves e abaixo de nossos números, embora isso possa ter sido pelo menos parcialmente esperado pelo mercado”, avalia o BBA.
A XP, apesar de ver o trimestre como negativo, mantém uma visão construtiva de longo prazo para a empresa e recomendação de compra. O Bradesco BBI também tem recomendação equivalente à compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 1,70 (upside de 38%), assim como o BBA, que tem preço-alvo de R$ 3,30.
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Por: Vitor Azevedo – InfoMoney