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Investidor estrangeiro aportou R$ 1,4 bilhão por dia na bolsa brasileira

No acumulado do mês de março, o aporte do investidor estrangeiro na B3 (B3SA3) somou uma média de R$ 1,4 bilhão ao dia.

Os dados levantados pela consultoria EFPR e apurados pelo jornal Estado de S. Paulo mostram que o investidor estrangeiro tem buscado um mercado emergente com ativos atrelados às commodities, cujos preços dispararam após a Rússia invadir a Ucrânia.

De acordo com o corresponsável de portfólio para ações da gestora WHG, Daniel Gewehr, a alta do Ibovespa neste início de ano foi sustentada, basicamente, por dez ações listadas na bolsa.

Ele lembra que o peso do setor de commodities chega hoje a 30% do índice – há um ano, era de 20%. Para ele, o que também atrai os investidores é o fato de essas empresas estarem baratas em relação às suas concorrentes globais.

O fluxo, em grande parte, também explica a queda do dólar, negociado na casa dos R$ 4,70.

Além disso, no caso dos EUA, há uma disparidade do ciclo de alta de juros – enquanto o BC do Brasil chega perto do topo da Selic e deve baixar a taxa no ano que vem, o Fed dá início ao tappering e às altas de juros.

Com esse cenário, somente em 2022, o saldo entre entradas e retiradas é de R$ 92 bilhões neste ano. Apenas em março, até dia 28, são R$ 26,4 bilhões, contando 19 pregões.

Já no primeiro trimestre, são cerca de R$ 104,2 bilhões.

Nesse fluxo volumoso, há grande influência dos investidores institucionais. Somente grandes fundos globais de ações aportaram uma cifra de US$ 7,7 bilhões ao mercado brasileiro nos três primeiros meses de 2022. Descontados os saques, o saldo é de US$ 3 bilhões no período – o maior desde o início da pandemia.

Em 2021, os mesmos fundos fizeram um aporte de US$ 14 bilhões ao Brasil.

O economista responsável pelos mercados emergentes da consultoria londrina Capital Economics, William Jackson, explica que, além do preço das commodities, que dará um impulso às exportações, atraindo investidores, a falta de ligação do Brasil com Rússia e Ucrânia e o pouco contágio dos efeitos da guerra no Leste Europeu também têm ajudado a direcionar o fluxo de capital para cá.

Relatório do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), entidade formada por mais de 400 bancos globais e com sede em Washington (Estados Unidos), corrobora essa avaliação. A entidade apontou que, apenas em fevereiro, a entrada de capital em países emergentes atingiu US$ 17,6 bilhões, sendo US$ 8,7 bilhões apenas para a América Latina.

Em relatório enviado a clientes há poucos dias, o Bank of America destacou que, enquanto investidores nacionais estão saindo de fundos de ações e migrando para a renda fixa, diante das taxas de juros mais altas, algo que torna essa classe de investimento mais atrativa, os investidores estrangeiros direcionaram o fluxo ao Brasil, sendo os grandes responsáveis pela alta do índice brasileiro neste início do ano.

Investidor estrangeiro deve ‘compensar’ efeitos da guerra

Apesar de o Brasil não passar imune aos impactos da invasão da Rússia à Ucrânia, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), os aportes do investidor estrangeiro devem compensar os efeitos negativos.

Enquanto a pressão sobre as commodities, matérias-primas e insumos em geral tenha levantado um alerta em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), um impacto negativo pode ser compensado pelo crescimento das exportações e pela atração do capital do investidor estrangeiro.

“Diante desse novo choque, que adiciona incertezas no cenário econômico mundial, o quadro indica maior freio da atividade global, e é difícil imaginar que o Brasil saia ileso nesse contexto. Mas temos potencial para mitigar os efeitos”, diz o presidente da Febraban, Isaac Sidney.

Segundo ele, o desempenho da economia brasileira no ano passado veio em linha com a expectativa da federação, com um quarto trimestre “até um pouco melhor do que o esperado”, como reflexo da retomada da mobilidade urbana e o avanço da vacinação.

O PIB cresceu 4,6% ante 2020, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A expansão mais do que compensou a retração de 2020, colocando o PIB de 2021 cerca de 0,5% acima do nível de 2019”, avalia o presidente da Febraban.

Sobre o crédito, Sidney não antevê impactos relevantes por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia que justifiquem mudanças nas projeções da Federação. A Febraban espera que os empréstimos cresçam acima dos 9%, com recursos livres para empresas e famílias.

No mercado financeiro, que já teria um ano desafiador com as eleições no Brasil, os bancos têm capacidade de absorver a demanda, de acordo com o presidente da Febraban.

“O setor bancário brasileiro está preparado para absorver a demandas das empresas por linhas, no caso de eventual piora no mercado de capitais”, reforça.

Para o presidente da Febraban, principalmente considerando o cenário internacional e com o investidor estrangeiro sendo relevante para o mercado, a maior atenção fica com o movimento das autoridades monetárias: “O perigo é que os BCs (em especial, o Fed, o BC americano) demorem muito para retirar estímulos e percam controle das expectativas, necessitando de um ajuste do juro muito forte à frente”.

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Por: Eduardo Vargas – Suno

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