No acumulado de dezembro, o dólar já saiu de R$ 5,19 e bateu R$ 5,32, voltando para patamares menores nos últimos dias. O câmbio, nesse contexto, teve influência das últimas movimentações da agenda política e das perspectivas macroeconômicas dos Estados Unidos, que estão em meio a um aperto monetário.
O dólar à vista terminou esta sexta (16) cotado em R$ 5,2941, queda de 0,41%. A alta semanal é a segunda consecutiva.
Atualmente o mercado financeiro espera que a tendência do dólar deixe a moeda em R$ 5,25 ao fim deste ano. Para 2023, a projeção é a mesma.
Dentro do espectro político, a formação da nova equipe econômica e os anúncios foram um fator relevante para a alta do dólar. O primeiro movimento nesse sentido veio quando Lula fez um discurso oficial no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), levando o dólar à maior alta desde março de 2020.
“O dólar caminhava para romper a casa dos R$ 5,00, porém, devido a uma série de falas do governo que assumirá o país, que foram mal absorvidas pelo mercado, e nomeações importantes que caíram no desgosto do mercado brasileiro e externo, nós estamos sentindo os dois piores movimentos de mercado para a economia: dólar em alta e bolsa em queda”, comenta o economista Paulo Paiva.
Paiva destaca que as “políticas fiscais expansionistas exacerbadas” foram as principais razões para aumentar a preocupação do mercado.
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Sergio Machado, sócio e gestor da NCH Capital, destaca que o mercado está sendo “leniente com as propostas do novo governo”.
“Estamos tendo surpresas, mas não devia ter surpresa nenhuma. Simplesmente o que o Lula e o PT têm feito é reafirmar uma linha deles. O mercado tinha comprado a ilusão do Henrique Meirelles, de quem ninguém nunca falou oficialmente. Foi uma lenda urbana do próprio mercado”, comenta.
“O mercado também acredita que o Congresso pode ser austero, mas acho que é mais uma lenda urbana. O parlamento é sempre generoso com o dinheiro público, na medida que se beneficia disso”, segue.
Com um aumento de irresponsabilidade fiscal, Machado destaca que o dólar “sempre pode subir mais”, e eventualmente ir a R$ 6, dado que a “o tamanho da irresponsabilidade altera o preço da moeda”.
Segundo o especialista, o contraponto são os juros reais, que podem ser de 6% ou 7% com as projeções do IPCA. Atualmente o mercado estima uma inflação de 5,88% em 2022 e de 5% para o ano que vem.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, aponta que o único modo de o governo aliviar essa pressão é sinalizar uma mudança de rumos no cenário fiscal.
“O novo governo precisaria sinalizar um alívio no fiscal, e abrir mão de uma PEC de Transição que busque R$ 168 bilhões de reais acima do teto. Além disso, deveria manter a máquina pública mais enxuta, realizar a reforma tributária para dar mais eficiência ao modelo atual, levar adiante algumas privatizações e buscar estimular a economia para voltar a crescer. Tudo o que até o momento o governo eleito não se mostrou disposto a fazer”, aponta.
Vale destacar que atualmente a PEC da Transição ainda não foi aprovada e segue em discussão dentro da cúpula política do governo eleito, num momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) julga o Orçamento Secreto – que trata das emendas de relator, que foram a moeda de troca de apoio dos parlamentares do Centrão ao governo Bolsonaro.
Gestores mostram desilusão
Ainda no dia 9 de dezembro, o Fundo Verde sinalizou que reduziu sua exposição em ativos brasileiros e criticou duramente a postura do governo eleito.
No seu parecer, a gestora de recursos teceu críticas sobre o cenário atual ainda antes dos eventos recentes que contam com a indicação de Aloizio Mercadante para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e as alterações na Lei das Estatais.
“Não há absolutamente nenhum compromisso com qualquer responsabilidade fiscal, e a leitura do preâmbulo da PEC ainda traz uma pérola citando MMT (Teoria Monetária Moderna) como justificativa para essa festa”, diz a última carta de gestão do Fundo Verde, de Luis Stuhlberger.
“Um país com a história inflacionária do Brasil e taxas de juros de 13,75% brincar com esse tipo de argumento mostra que, definitivamente, o PT não aprendeu nada com o desastre do governo Dilma”, segue o documento.
Segundo a gestão do Multimercado Verde FIC FIM, a “marcha da insensatez fiscal segue inabalada em Brasília”, causando maior tensão acerca do dólar e dos ativos de bolsa.
Fed e indicadores econômicos movimentam dólar
Além do cenário fiscal, a mudança da política monetária dos EUA tem sido outro fator destacado por especialista como um dos mais relevantes no câmbio.
Ainda nesta semana o Federal Reserve ajustou sua taxa de juros para uma banda de 4,25% a 4,50% (nos EUA, o número não é fixo como no Brasil com a Selic).
Além disso, dados melhores do que o esperado de inflação – mensurados pelo CPI – animaram o mercado americano também nesta semana.
As expectativas melhores já eram destacadas por analistas, dados os indicadores passados da economia americana.
“As condições financeiras dos EUA melhoraram consideravelmente em últimas semanas, mudando essencialmente todo o aperto do índice de condições financeiras (FCI, na sigla em inglês) que vinha deste a metade do ano”, destaca o Goldman Sachs.
“Embora isso talvez não seja surpreendente, os planos declarados do Fed de desacelerar o ritmo dos aumentos das taxas também são provavelmente insustentáveis. Embora concordemos que o destino final da taxa básica de juros deve importar mais do que o ritmo dos ajustes, definir um curso mais lento tende a aliviar as condições financeiras, diminuindo volatilidade da taxa e inclinando o mercado para responder mais a reveses negativas”, segue.
Em seu parecer sobre o dólar, os analistas do BTG Pactual destacaram que o ajuste fino da política monetária dos EUA em um ciclo mais longo também deve afetar diretamente o câmbio.
“O FOMC deu todas as sinalizações de que irá reduzir o ritmo de alta de juros neste mês de dezembro, aproveitando a proximidade com o que é considerado a taxa terminal (entre 5%-5,25%) para fazer o ajuste fino em um ritmo mais apropriado para o gerenciamento de risco e diagnosticar melhor os efeitos defasados da política monetária”, comentam.
“O grande desafio será entregar uma comunicação que não seja interpretada como dovish e não afrouxe prematuramente as condições financeiras e eventualmente demandando mais ajuste no futuro”, seguem, sobre as medidas do Fed que afetam o dólar.
Por: Eduardo Vargas – Suno