Na última sexta-feira (25), o Governo Federal publicou o decreto presidencial nº 10.979 para reduzir definitivamente o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 25%; já para a indústria automotiva, a redução do imposto foi de 18,5%.
De acordo com o governo, a medida foca em incentivar a indústria e o comércio local, reaquecer a economia e gerar empregos. Paulo Guedes, ministro da Economia, sinalizou recentemente que esse corte deve ser apenas o início de um processo gradual de redução desse tributo.
O impacto é diverso para muitos setores da economia e, consequentemente, para as ações listadas em Bolsa.
No setor de aluguel de carros e venda de seminovos, a redução do IPI terá impactos diferentes nos veículos novos e nos usados para as locadoras Movida (MOVI3), Unidas (LCAM3) e Localiza (RENT3), de acordo com analistas de mercado.
O Bradesco BBI fez um cálculo estimativo incorporando os 18,5% de redução da alíquota – como a indústria já tem redução do imposto de fabricação de carros, não há como adotar a alíquota máxima de redução de 25% de IPI instituída pelo governo.
“Em caso de perda no valor da frota, que não é o nosso cenário base, a Movida é a ação mais impactada [negativamente] a R$ 0,40, seguida pela Unidas e Localiza, ambas a R$ 0,30 por ação”.
Por outro lado, o banco aponta que essas empresas comprarão carros novos mais baratos. E por essa conta, para 2022, a Movida, a Unidas e a Localiza podem economizar R$ 177 milhões, R$ 176 milhões e R$ 350 milhões, respectivamente, representando 1,2 vez, 1,3 vez e 1,8 vez maior do que o impairment pontual da frota.
O BBI informou ainda que “se houver algum impacto nos preços dos carros usados (das locadoras), as margens dos seminovos poderão convergir mais rapidamente para a margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) histórica de 3%-5%”.
Assim, para a instituição, a notícia não é motivo para venda dos papéis, mantendo a classificação de outperform (desempenho acima da média do mercado) para as três locadoras. O preço-alvo para a ação RENT3 é de R$ 63 (potencial de alta de 10% em relação ao fechamento de sexta-feira), de R$ 28 para LCAM3, com preço-alvo de R$ 28 (upside de 11%), enquanto é de R$ 27 para MOVI3 (upside de 65%).
Difícil de estimar a perda de margem nos seminovos
Já o Credit Suisse explicou em seu relatório sobre a redução do IPI para carros novos que, para a fabricação de automóveis, a alíquota do IPI varia entre 7% e 25%, dependendo do tipo de combustível e tamanho do motor. De acordo com a instituição, os preços dos automóveis seriam teoricamente reduzidos em 1,6%-5%, se a diminuição de alíquota for mesmo repassada ao consumidor final.
O banco suíço avalia que “parte do impacto será refletida na depreciação e parte diluída ao longo do tempo nas margens dos seminovos”, mas completou que esse detalhamento é “difícil de estimar e dependerá de quanto da frota é contabilizado acima do preço de venda esperado e quanto abaixo”.
No entanto, num cálculo da instituição, se estimar uma média de 10,5% de diminuição de IPI sobre a frota das locadoras, os preços dos carros seriam reduzidos em 2,4%.
Mas na mesma linha do Bradesco BBI, o Credit Suisse relata que “como os carros devem ficar mais baratos, o capital necessário para renovar e aumentar a frota será menor”. E complementa: “caso a redução do IPI seja revertida no futuro, a frota comprada com o benefício será vendida a um preço mais alto”.
Nesta quarta, os papéis MOVI3 fecharam em queda de 1,84%, a R$ 16,03, RENT3 teve perdas de 1,67%, a R$ 56,56, enquanto LCAM3 teve baixa de 0,83%, a R$ 25,07.
Impacto no varejo: bom para e-commerce
Já a XP abordou em relatório o impacto do corte do IPI – esse em 25% – nas varejistas.
Os analistas mapearam o IPI aplicado para os principais produtos que impactam as ações de cobertura da casa, com os impostos aplicados em linha branca/eletrônicos variando entre 5% e 35% e em cosméticos entre 0% e 42%.
“Nós também destacamos que a maioria dos produtos finais dos segmentos de vestuário, calçados, medicamentos e alimentos não pagavam IPI, mas eles podem ser positivamente impactados uma vez que algumas matérias primas arcam com o tributo”, apontam.
Na avaliação dos analistas, a fala da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de que o corte é muito positivo e deve ajudar a arrefecer a inflação (produtos industriais representam cerca de 23% do IPCA) além de fomentar a demanda por essas categorias, é uma sinalização de que a indústria deve repassar o corte para os preços.
Nesse cenário, eles veem Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Natura&Co (NTCO3) como as principais beneficiárias da medida. Isso levando em conta que a medida deva levar a menores custos, que devem ser repassados completamente para os preços finais para aumentar a demanda ou ser parcialmente incorporado nas margens.
Alpargatas (ALPA4) também deve se beneficiar uma vez que suas principais matérias primas (borracha sintética e butadieno) estão sujeitas ao IPI. “Finalmente, o varejo alimentar e as farmácias podem ser positivamente impactados por menores preços em parte do seu mix de vendas e uma poder de compra mais preservado”, avaliam.
Por outro lado, companhias que eram isentas em pagar o IPI (exemplo, Zona Franca de Manaus) podem ser negativamente afetadas pela medida uma vez que isso deve reduzir seus benefícios fiscais e, consequentemente, sua competitividade.
“Entretanto, Guedes já reforçou que o governo está preocupado em não prejudicar a região enquanto as companhias que possuem operações lá devem buscar alternativas para proteger sua competitividade”, aponta a XP, destacando a Vivara (VIVA3) e a Multilaser (MLAS3) como as empresas que possuem operações na Zona Franca dentro da cobertura da XP.
Nesta quarta, MGLU3 subiu 4,99%, a R$ 6,31, VIIA3 avançou 1,85%, a R$ 3,86, enquanto NTCO3 teve queda de 4,02%, a R$ 22,22. VIVA3 teve baixa de 1,03%, a R$ 26,00, enquanto MLAS3 fechou em alta de 1,93%, a R$ 5,81.
Abaixo, segue quadro da XP com o resumo dos efeitos do corte de IPI para as ações de varejistas:
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Por: Lara Rizério – InfoMoney