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Analistas dizem que ganhos salariais nos EUA preocupam mais que geração forte de vagas

Em meio aos dados que mostram a continuidade do aquecimento do mercado de trabalho nos Estados Unidos, o que mais deve continuar trazendo preocupações para o Federal Reserve (Fed) por conta de pressões inflacionárias é o desempenho dos salários, dizem analistas. Segundo o Payroll divulgado nesta sexta-feira (5), os ganhos médios por hora das folhas de pagamento privadas subiram 0,5% no mês e 4,4% nos últimos 12 meses.

A criação de empregos não-agrícolas nos EUA também veio acima do esperado pelo mercado – 235 mil novas vagas, ante estimativas de 180 mil – e a taxa de desemprego recuou para 3,4% no mês, a mais baixa em 50 anos.

Embora esses dados de geração líquida de vagas sejam fatores de atenção, Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, lembrou que a surpresa com a geração de empregos foi praticamente compensada pelas revisões para baixo dos meses anteriores. De fato, a revisão combinada em fevereiro e março representou um número de 149.000 vagas a menos que o relatado anteriormente.

Assim ela disse que deve ser dada mais atenção à taxa de desemprego de 3,4%, que mostra que quase todas as pessoas inseridas no mercado de trabalho estão ocupadas. “Essa taxa baixa tem um efeito secundário sobre o nível de salários”, comentou.

“O que esse conjunto de indicadores nos mostra? Que o mercado de trabalho continua muito apertado, que a criação de vagas está continuamente num terreno bastante elevado, com dados muito fortes”, afirmou Carla.

Ela explicou disse que a abertura de vagas está forte, mesmo após a recuperação do represamento motivado pela pandemia, com impactos sobre a taxa de desemprego e, principalmente, sobre o ganho médio por hora. “Esse ganho tem potencial para continuar impactando os indicadores inflacionários”, afirmou.

Ela lembrou que, no último Fomc (nesta quarta-feira), Jerome Powell disse no seu discurso que os dados que seriam divulgados no intervalo até a próxima reunião, em junho, serão extremamente relevantes para a condução da política monetária.

“E o primeiro indicador relevante nessa janela de tempo, um dos mais relevantes, mostra uma pressão consistente, com potencial impacto sobre indicadores inflacionários. Esse dado traz algum nível de pressão adicional e pode deixar a autoridade monetária não tão confortável em termos de encerramento do ciclo de aperto monetário”, disse.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, também afirmou que os dados mostram o persistente aquecimento da economia norte-americana, mas não a ponto de forçar o Fed a subir mais os juros nas próximas reuniões. O principal motivo é a atual em virtude também da crise bancária.

“Em relação às próximas reuniões do Fed, eu acredito que não muda nada. Dados só favorecem a possível manutenção dos juros e início da queda dos juros num prazo menor”, disse.

Cohen destacou que há uma extensa lista de indicadores para o Fed observar até a próxima reunião, de inflação (CPI e PCE), pedidos de auxílio-desemprego, PIB, e balanços de bancos. “É isso que vai ditar o ritmo das decisões em relação aos juros nos Estados Unidos”, comentou.

Andressa Durão, economista da ASA Investments, também analisou que a surpresa positiva com o dado de emprego foi mais do que compensada pelas revisões baixistas nos meses anteriores. Por outro lado, ele afirmou outros indicadores da pesquisa trouxeram sinais ‘hawk’, como a taxa de desemprego atingiu na mínima e revisões altista nos dados de salário, pesar de Jerome Powell ter dito nesta semana que não estão enxergando repasse para inflação.

“Continuamos esperando taxa de juros parada até o fim do ano, salvo novas surpresas relevantes nos dados de mercado de trabalho e, principalmente, de inflação”, previu Andressa.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, destacou que o Payroll mais forte que o esperado e a contínua valorização dos salários em abril se soma a outras pesquisas sobre o mercado de trabalho na semana, que levam a uma competição por trabalhadores e a uma alta dos salários acima da produtividade, pressionando a inflação.

“O mercado de trabalho deve desacelerar lentamente. A inflação segue pressionada por elevações de salários acima dos ganhos de produtividade. Não esperamos que os juros americanos caiam antes de meados de 2024”, previu.

Ela ponderou, no entanto que o  início do corte de juros pode ser antecipado caso haja um aperto de crédito mais intenso decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, comentou em sua conta no Twitter que o Payroll de abril mais forte que o esperado não aponta sinais da esperada recessão nos EUA.

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Por: Roberto de Lira – InfoMoney

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