O Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed), anunciou nesta sexta (27) que vai aumentar a taxa básica de juros em 0,75 ponto percentual, alcançando o intervalo entre 2,25% e 2,59% ao ano. A decisão, aguardada pelo mercado, representa a quarta alta das taxas do país desde 2018. A expectativa majoritária era pelo avanço nos juros básicos americanos, que subiram na mesma intensidade na reunião de junho para a faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano.
A decisão foi unânime. A justificativa para a elevação das taxas de juros do Fed, segundo os membros do Fed, é para conter a escalada de preços. A inflação nos Estados Unidos foi a 9,1% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo leitura do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, do inglês) divulgada em 13 de junho. A variação da inflação dos EUA foi de 1,3% de alta em junho, acima das projeções, que miravam 1,1%. O anualizado também fica acima do esperado pelos analistas, que era de 8,8%.
O Fed busca tentar trazer a inflação à meta de 2%. “É essencial que reduzamos a inflação para nossa meta de 2%, se quisermos ter um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem a todos do ponto de vista do nosso mandato de promover o máximo de emprego e estabilidade de preços”, afirmou o presidente do Fed Jerome Powell.
“Os indicadores recentes de gastos e produção se suavizaram. No entanto, os ganhos de emprego foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões mais amplas sobre os preços”, diz o comunicado do Fed.
O comunicado acrescenta: “A guerra da Rússia contra a Ucrânia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A guerra e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global. O Comitê está altamente atento aos riscos inflacionários.”
E explica: “O Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Em apoio a essas metas.”
Reação do mercado ao comunicado do Fed
Como a decisão era amplamente esperada pelo mercado, as bolsa em Nova York, que operavam no positivo, ampliaram altas: Dow Jones sobe 1,67%, S&P 500 avança 2,89% e Nasdaq dispara 4,52%. O Ibovespa opera valorizando 1,61%, aos 101.377,48 pontos. O dólar está em queda: 1,16%, a R$ 5,297.
O Comitê diz que continuará a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas: “O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir a consecução dos objetivos do Comitê. As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre saúde pública, condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação e desenvolvimentos financeiros e internacionais.”
Neste cenário, o Fomc ficará “altamente atento” aos riscos de pressão inflacionária e se mantém “fortemente comprometido” em retornar a taxa de inflação à meta de 2% ao ano. O Fed ainda assegura que continuará a monitorar as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas.
O Fed tinha comentado, em 13 de julho, o risco de pressão inflacionária no Livro Bege, documento elaborado pelos membros da instituição com dados de pesquisas feitas com economistas, analistas, empresários e agentes de mercado de doze distritos dos EUA. O levantamento e a análise servem como orientação para as reuniões do banco central sobre política monetária. A maioria das empresas no país contatadas esperava que pressões inflacionárias seguissem persistentes ao menos até o fim do ano. O risco e o temor de recessão foram mencionados no levantamento — e o receio aumentou desde a última pesquisa, em junho.
Fed reafirma ritmo de redução do balanço patrimonial
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reafirmou, seu plano de diminuir o balanço de ativos da entidade conforme os termos definidos na reunião de maio do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês).
No comunicado em que anunciou alta dos juros básicos em 75 pontos-base, à faixa entre 2,25% e 2,50%, o Fed reiterou que reduzirá suas participações em Treasuries, títulos de agência e títulos lastreados em hipoteca (MBS, na sigla em inglês).
Pelo plano, iniciado em 1º de junho, o Fed reduz as compras de MBS em US$ 17,5 bilhões ao mês e as de Treasuries em US$ 30 bilhões, em um total de US$ 47,5 bilhões, durante os três primeiros meses. Depois disso, a partir de setembro, a redução será de US$ 60 bilhões por mês para Treasuries e US$ 35 bilhões para MBS, em um total de US$ 95 bilhões.
“Novos aumentos serão apropriados”, diz Powell
“O Comitê estaria preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado, caso surjam riscos que possam impedir a realização dos objetivos do Comitê”, diz o comunicado. “As avaliações do Comitê levarão em conta uma ampla gama de informações, incluindo leituras sobre saúde pública, condições do mercado de trabalho, pressões inflacionárias e expectativas de inflação e desenvolvimentos financeiros e internacionais”, completa.
Depois da divulgação do comunicado, o presidente do Fed Jerome Powell falou sobre a decisão da autoridade monetária em entrevista coletiva. Repetiu o que disse o comunicado do Fed: novas altas de juros “serão apropriadas”. E explicou: “A última leitura de inflação foi pior que o esperado. Estamos muito comprometidos a reduzir inflação e agindo rapidamente. O mercado de trabalho permaneceu extremamente apertado. Gastos dos consumidores desaceleraram significativamente. Ainda que os preços de algumas commodities tenham reduzido, guerra na Ucrânia causou pressão sobre a inflação. As pressões sobre os preços continuam persistentes e amplas. Nada funciona na economia sem estabilidade de preços. ”
“Temos as ferramentas de que precisamos e a determinação necessária para restaurar a estabilidade de preços em nome das famílias e empresas americanas”, disse Powell.
Ele afirmou que a economia e os EUA se mostraram “resilientes” nos últimos dois anos e meio apesar dos desafios enfrentados. No entanto, reforçou a necessidade de baixar a inflação “muito alta” em meio a um mercado de trabalho “extremamente apertado”, com o crescimento salarial acelerando e uma desaceleração significativa no consumo dos consumidores norte-americanos.
“É essencial que reduzamos a inflação para nossa meta de 2%, se quisermos ter um período sustentado de fortes condições do mercado de trabalho que beneficiem a todos do ponto de vista do nosso mandato de promover o máximo de emprego e estabilidade de preços”, afirmou o presidente do Fed.
Powell também disse que outro aumento de juros “incomumente alto” pode ser apropriado nos Estados Unidos. Por outro lado, afirmou que o ideal é decidir o tamanho da alta nas taxas a cada reunião, seguindo os mesmos passos do Banco Central Europeu (BCE), que abandonou o forward guidance, orientação futura da política monetária aos mercados.
“Vamos tomar decisões reunião por reunião. Achamos que é hora de (decidir o aumento dos juros) em reunião por reunião e não fornecer o tipo de orientação clara que fornecemos no caminho para os juros neutros”, afirmou Powell nesta quarta.
Na sua visão, as decisões futuras de política monetária vão depender de dados e da situação da maior economia do mundo, mas que outro “aumento incomumente alto dos juros pode ser apropriado”. Powell disse ainda que houve amplo apoio para a decisão anunciada hoje, de elevar os juros em mais 75 pontos-base. “Atingimos uma faixa de juros que acreditamos ser neutra”, afirmou.
Fed: ritmo de altas de juros
Jerome Powell reforçou a sinalização já dada pelo Fomc de que novas altas de juros serão apropriadas, considerando um cenário de inflação “muito elevada”. Ele não quis se comprometer, contudo, com o ritmo de aumentos futuros, atrelando-os a dados e à perspectiva da economia dos Estados Unidos.
“Prevemos que aumentos contínuos serão apropriados. O ritmo desses aumentos continuará a depender dos dados recebidos e das perspectivas em evolução para a economia”, afirmou Powell, na coletiva.
Ele ponderou, no entanto, que, provavelmente, será necessário moderar o ritmo de futuras altas de juros. Ao comentar o atual cenário, ele disse que, ainda que preços de algumas commodities tenham reduzido, a guerra na Ucrânia criou pressão na inflação. “As pressões inflacionárias estão amplas”, disse o presidente do Fed.
Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, comenta a decisão do Fed: “Se por um lado o Fed vem se mostrando atento aos indicadores divulgados para ser ágil o suficiente na estratégia de ajustar a política conforme necessário, por outro, corre-se o risco de estar atrás da curva da inflação. Sendo assim, está em uma posição bastante delicada, visto que os problemas econômicos mundiais estão se acumulando e podem gerar impactos sociopolíticos importantes e até preceder revoluções, como historicamente é conhecido. É possível também afetar o mercado norte-americano, por exemplo, com a migração de capital estrangeiro para os EUA, favorecendo que a inflação continue forte. Considerando tudo isso, e o anúncio de hoje, vejo que o Fed ainda mostra estar confiante na força de recuperação da economia americana e busca equilibrar a desaceleração econômica e os índices inflacionários, ao mesmo tempo em que evita uma recessão severa, para diminuir a tensão do mercado financeiro mundial.”
Vaz acrescenta: “Sem dúvida, o Fed hawkish restringirá o crescimento econômico no curto prazo, enfraquecendo a demanda e apertando as condições financeiras, por ora, até que a inflação nos EUA tenha caído abaixo de 6%, o que não deve acontecer tão brevemente. Com isso, em relação à curva, o Fed deve seguir nesta estratégia até o final de 2022, promovendo novos aumentos entre 25 bps e 75 bps, sendo mais 75 bps em setembro e mais 25 bps em novembro e dezembro, buscando o chamado ‘pouso suave’.
O fundador da Conti Capital fala sobre as implicações da decisão na economia global: “Considerando esse movimento e todo o cenário mundial, que incluí o aumento de juros anunciado recentemente pelo Banco Central Europeu – pela primeira vez desde 2011 – mais a desaceleração chinesa, a preocupação com a inflação e com as restrições de fornecimento de produtos energéticos impactando duramente a Alemanha, que também está em desaquecimento econômico, certamente teremos mais volatilidade e incerteza para precificar, o que acaba provocando dias de mais tensão para os investidores, globalmente. No entanto, não é possível cravar o que vai acontecer em cada mercado, visto que há segmentos que atuarão na contramão da crise, e, ainda, cada lugar do mundo vai sentir a puxada econômica de maneira diferente, com base em seus níveis de desenvolvimento, comportamentos e problemas locais.”
Movimento global de alta de juros
Vaz conclui: “Esse ciclo de alta de juros é um movimento global, reservado às devidas particularidades locais, como comentei. No Brasil, a Selic foi a 13,25% e vêm novos aumentos, segundo previsões de diversos especialistas. Esses movimentos significam volatilidade e incerteza, como reforço novamente. A alta de juros afeta o risco Brasil, que orienta a decisão de negociar ou não no País; É possível ver o capital dos investidores migrar para países nos quais o ambiente é mais estável e menos impactado pelas incertezas geopolíticas e econômicas. Enquanto nos Estados Unidos, apesar de haver um temor em relação a uma possível recessão, o clima ainda é de confiança na resiliência da economia local. No Brasil há muitos outros problemas internos e externos que impactam diretamente na decisão dos investidores de aportar capital em solo brasileiro, o que certamente resulta em mais problemas, num efeito bola de neve.”
Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, observa: “Os dados vieram conforme o esperado. O Fed divulgou uma ata com discurso duro destacando a preocupação com a inflação. Mesmo com dados de atividades mais leves tanto de gastos e produção, o mercado de trabalho está muito aquecido com taxa de desemprego baixa e com a inflação permanecendo elevada. Além disso, a guerra entre Rússia e Ucrânia continuam criando forte pressão na inflação. Na minha visão, esse aumento já estava precificado e não surpreende o mercado. A decisão deixou o S&P animado. O dólar cai frente aos pares com as apostas de que a taxa final não será mais 3.5/4.0 e sim algo entre 3.0/3.5. Devemos ter alta em 50 p.p na próxima reunião.”
Andrey Nousi, especialista em finanças e fundador da Nousi Finance, vê aumentos menores do Fed nas próximas reuniões: “O Fed subiu juros como esperado, ainda vê a economia forte no mercado laboral e muita pressão inflacionária. Isso quer dizer que continuarão forte com aumento de juros – porém, daqui pra frente, em vez de 75bps, espera-se que serão 50bps tanto em setembro, quanto novembro, com possível fim do aperto monetário. O mercado já olha atualmente como a inflação batendo o pico.”
João Beck, economista e sócio da BRA, complementa: “A parte principal do comunicado incluiu uma dicotomia: ‘Os indicadores recentes de consumo e produção suavizaram. No entanto, os ganhos de emprego foram robustos. A inflação continua elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de alimentos e energia e pressões mais amplas de preços”. A decisão de política monetária de hoje e o comunicado não apresentaram grandes surpresas e, após o aumento de 75bps hoje, o mercado espera que o Fed diminua o ritmo de aperto para altas de 50bps em setembro, seguida de 25bps em novembro, quando o Fed fará uma pausa e avaliará o equilíbrio de riscos para a economia.”
Economia em recessão?
Beck analisa: “A publicação dos números do PIB do segundo trimestre amanhã também é importante e revelará se a economia dos EUA entrou em uma recessão técnica no primeiro semestre de 2022. O mercado espera amanhã uma contração do PIB de 0,9% no segundo trimestre, impulsionada por diversos fatores como queda do preço das commodities e deterioração do consumo e investimento privado. O efeito de arrocho que as taxas de juros mais altas já estão se revelando no mercado imobiliário dos EUA fará com que o Fed não leve os juros muito acima de 3% ao longo deste ano.”
Eduardo Melo, especialista em finanças e CEO da Prime Investe, fala sobre o impacto no mercado de capitais: ” A economia americana é sólida, está no TOP 3 do mundo nos últimos 30 anos. Quando vemos essa queda entrando na casa dos 30% de uma economia muito sólida, independente da taxa de juros vir elevada, igual ou inferior, vemos o mercado entrando em um ciclo de boas oportunidades. Mercado sempre mostrando boas oportunidades de compra, porque uma queda de 30% do mercado americano, em 2020, na pandemia foi um fator atípico, mas o mercado não atingiu esses patamares e a última queda que tivemos nesse tamanho foi em 2008, lá se vai 14 anos, que não temos uma boa oportunidade de queda como essa. Acredito que as melhores oportunidades estão na crise.”
Rafael Marques, CEO da Philos Invest, destaca: “Um ponto importante colocado pela autoridade monetária foi que eles reconheceram a suavização dos gastos das famílias, dos dados recentes que saíram e da produção industrial tb, mas que ainda estão incomodados com o mercado de trabalho que segue com ganhos robustos. Notamos que o Jerome Powell, presidente do banco central americano, continua sabendo jogar o jogo com o mercado no discurso. Vimos que os mercados estão reagindo fortemente com bastante euforia depois da sinalização do Fed e que consideram de fato fazer uma redução no ritmo do aperto monetário e deu para ver que ele foi bem explícito nesse ponto quando ele diz que provavelmente será apropriado moderar o ritmo de alta.”
E observa: “Na sequência ele emendou com a sinalização de mais um aumento de 75bps do Fed, ou seja no momento momento que ele falou que vai moderar, ele anuncia que vai fazer uma alta de 75 bps. E por fim, eu acho que o grande incômodo do presidente do Banco Central, que eles vão analisar mais de perto, é a questão do mercado de trabalho que segue extremamente pressionada.”
Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores, comentou o impacto da decisão do Fed nas criptomoedas: “O mercado reagiu bem após o Fed seguir as expectativas do mercado e elevar a taxa de juros em 75 p.p. O bitcoin subiu recuperando mais de 5% no dia, quase anulando a queda dos últimos dois dias. É positivo para todo o mercado que o Fed reconheça que a inflação esteja recuando. Isso tira pressão sobre ativos de tecnologia, o que favorece o bitcoin e todo mercado cripto. Além de subir 0,75, o Fed também sinalizou que pode reduzir a força dos próximos aumentos. Descartada uma surpresa negativa, nos próximos dias, deveremos ver uma recuperação até os 24 mil dólares no bitcoin. O ethereum deve ter uma performance superior ao bitcoin e se aproximar dos 2.000 mil dólares, de acordo com a atualização “merge”, que fica cada vez mais próxima e começa a ser precificada.”
(Com informações do Estadão Conteúdo)
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Por: Marco Antônio Lopes – Suno