O dólar inicia a semana no mercado doméstico em alta firme, voltando a superar a barreira de R$ 5,35, em meio a uma onda de fortalecimento global da moeda americana e ao tombo dos preços das commodities. Novos lockdowns na China para combater surto de variante do coronavírus e problemas de fornecimento de gás russo à Europa reavivaram os temores de recessão global que haviam arrefecido nos dois últimos pregões da semana passada, com anúncio de estímulos econômicos do governo chinês e geração expressiva de empregos nos EUA em junho.
O risco de novos problemas nas cadeias de produção em razão da política chinesa de “covid zero”, com eventuais impactos recessivos e inflacionários, jogam mais incerteza sobre a atividade global no momento em que os bancos centrais desenvolvidos, em especial o Federal Reserve, sobem juros para combater à inflação. Dirigentes do BC americano já acenaram com nova alta da taxa de juros em 75 pontos-base neste mês e migração da política monetária ao campo restritivo. Por ora, descartam a possibilidade de recessão e apostam em pouso suave da economia americana. Na quarta-feira (13), sai o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de junho, que pode ajudar a calibrar as expectativas.
Os ventos externos negativos se dão em um momento delicado do quadro doméstico. Após terem incorporado aos preços dos ativos a expansão de gastos extrateto na PEC dos Benefícios, que deve ser aprovada pela Câmara nesta semana, investidores se deparam com aumento das tensões políticas, após assassinato de militante petista neste fim de semana por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Segundo apurou o Broadcast, o governo deseja incluir dois milhões a mais de famílias no programa Auxílio Brasil, que teve seu valor elevado de R$ 400 para R$ 600 pela PEC dos Benefícios, também apelidada de PEC Kamikaze.
Em meio à conjunção de aversão ao risco vinda do exterior e cautela local, o dólar já abriu em forte alta, acima de R$ 5,30, e superou o nível de R$ 5,35 ainda pela manhã. A máxima da sessão se deu no meio da tarde, a R$ 5,3755, na esteira ao tombo de mais de 2% do Ibovespa e da aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior. No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,3710, alta de 1,96%, o que leva os ganhos acumulados em julho para 2,60%. O giro com o contrato de dólar futuro para agosto, principal termômetro do apetite por negócios, foi novamente reduzido (abaixo de US$ 10 bilhões), o que mostra mercado na defensiva e aumenta a volatilidade da taxa de câmbio.
“O que está puxando mais o dólar é o ambiente externo. A maioria das divisas emergentes estão perdendo bastante hoje. Mas os problemas internos, como o fiscal e o aumento da tensão política, ajudam a pressionar a moeda”, afirma o operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, para quem a queda de 1,44% do dólar na sexta-feira foi exagerada, apesar da recuperação dos preços das commodities na semana passada. “O quadro ainda é muito complicado aqui e lá fora. Se não aparecer algo novo que dê alívio, esse dólar pode chegar a R$ 5,50.”
Termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY chegou a superar os 108,200 pontos, no maior nível desde o início de 2022, sobretudo em razão do recuo de cerca de 1% euro e do iene. É grande a possibilidade de o euro cair até a paridade com o dólar, em meio aos riscos de interrupção do fluxo de gás da Rússia à Europa. O ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, disse que o governo está se preparando para um corte total de fornecimento de gás russo. Já o iene, que está no menor nível em relação ao dólar em quase 24 anos, sofre com a política monetária frouxa do Banco do Japão.
“Vivemos uma coleção de fatores negativos e o mercado não consegue engatar uma recuperação. Enquanto estiver azedo lá fora, não tem como a gente ter um alívio no dólar”, afirma o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, citando a possibilidade de novos bloqueios na China e o eventual impacto econômico do fechamento do gasoduto Nordstream, que leva gás da Rússia à Europa.
Segundo Vieira, as oscilações dos últimos dias mostram o mercado ainda trabalhando sobre o binômio recessão e inflação. Dados positivos como a forte geração de empregos nos EUA em junho, divulgada na sexta-feira, amenizam a preocupação com a atividade. Por outro lado, abrem a porta para que o Fed aperte ainda mais a política monetária.
“O payroll forte na semana passada já leva dirigentes do Fed a adotar o discurso de que uma alta de 75 pontos-base na taxa de juros não será danosa à economia. E isso joga o dólar para cima em nível global”, afirma Vieira, acrescentando que a deterioração das expectativas econômicas, como vista hoje, leva uma ala do mercado a ver possibilidade de que o Fed não seja tão duro.
(Com informações do Estadão Conteúdo)
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Por: Redação Suno Notícias – Suno