Se o Banco Central Europeu (BCE) já havia azedado os mercados na véspera ao aumentar o seu tom de preocupação com a inflação e não descartar um aumento de taxa em até 0,5 ponto em setembro, os dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos contribuíram ainda mais para a aversão ao risco global, levando a uma queda generalizada dos mercados acionários e a uma disparada do dólar ante diversas moedas.
Dados divulgados na manhã desta sexta-feira (10) mostraram que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aceleraram em maio, sugerindo que o Federal Reserve pode ter que continuar com os aumentos de juros até setembro para combater a inflação.
O índice (CPI, na sigla em inglês) avançou 1,0% em maio ante abril, uma forte aceleração em relação à alta de 0,3% no mês anterior e superando a previsão de analistas consultados pela Refinitiv, que estimavam avanço de 0,7%.
O núcleo do CPI, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, aumentou 0,6% na comparação mensal de maio, a mesma variação registrada em abril. Neste caso, o consenso do mercado também apontava para acréscimo menor, de 0,5%.
Na comparação anual, o CPI dos EUA deu um salto de 8,6% no mês passado, no maior nível desde dezembro de 1981, após ganho de 8,3% em abril.
Já o núcleo teve elevação anual de 6,0%. Os analistas esperavam que a alta fosse de 8,3% para o indicador cheio e de 5,9% para o núcleo. O índice que mede os preços de energia disparou 34,6% em maio ante igual mês de 2021, maior valor desde setembro de 2005. Já o de alimentos subiu 10,1%, primeira alta de dois dígitos desde março de 1981.
O relatório de inflação foi publicado antes do que deve ser a adoção de uma segunda alta consecutiva de 0,50 ponto percentual nos juros pelo Fed na próxima quarta-feira. Também já era esperado, antes do dado, que o banco central dos EUA eleve sua taxa básica em mais 0,5 ponto em julho. O Fed já aumentou os custos dos empréstimos em 0,75 ponto desde março.
A grande dúvida do mercado era se, a partir de setembro, haveria uma “parada” na alta de juros ou ao menos uma desaceleração. Porém, o dado acima do esperado acabou jogando um balde de água fria nestas expectativas e elevou as chances de um aperto agressivo nos juros.
O impacto no mercado de renda variável é claro, com as bolsas nos EUA em forte queda (Nasdaq em baixa de mais de 3%), enquanto o rendimento dos títulos dos EUA de dois anos superam a máxima em dois anos. No Brasil, o Ibovespa chegou a ter queda de cerca de 2% nas mínimas, enquanto o dólar sobe forte, chegando a superar os R$ 5 no intraday.
“A inflação está agora numa máxima em 40 anos, com poucas evidências de que atingiu o pico”, disse à Reuters John Doyle, vice-presidente de negociações e operações da Monex USA. “As ações estão estendendo as perdas na expectativa de que o Fed possa encontrar espaço para acelerar os aumentos de juros. O dólar está ganhando com a divergência entre políticas monetárias e com a aversão a risco”, disse.
Conforme aponta o Goldman Sachs, embora um aumento nas passagens aéreas tenha contribuído novamente para o avanço do núcleo, a composição também foi bastante forte no veral, incluindo a alta dos preços em automóveis e o ritmo mensal mais rápido de inflação de aluguéis desde 1987.
Com isso, agora o banco espera que o Fed eleve os juros em 0,5 ponto percentual em setembro, versus a estimativa de alta de 0,25 ponto anteriormente, além dos movimentos de alta de 0,5 ponto em junho e julho.
O Bank of America apontou que os dados de inflação no país mostram que o preço em alta não é mais uma questão da ruptura da cadeia de suprimentos.
“Os dados são consistentes com nossa visão de que a inflação não é mais apenas uma função de rupturas na cadeia de suprimentos de bens. A inflação também está sendo impulsionada pela forte demanda do consumidor por causa de um mercado de trabalho aquecido e forte inflação salarial”, resume.
Os estrategistas do BofA apontam que, embora o cenário-base continue sendo um aumento de 0,25 ponto nos juros em setembro (após os aumentos já sinalizados de 0,5 ponto em junho e julho), o dado de hoje eleva o risco de outro aumento de 0,5 ponto.
Além disso, destaca que o movimento da curva de juros após o dado precifica alguma probabilidade de aumento do juro em 0,75 ponto já na reunião de julho. “Este movimento da curva é consistente com um Fed precisando subir agressivamente para esfriar a inflação às custas do crescimento de longo prazo e é consistente com nosso cenário básico de estagflação”, aponta.
O Morgan Stanley aponta que, após o indicador, prevê um tom mais “hawkish” (duro, de preocupação com a inflação) do Fed na reunião da semana que vem.
“As pressões inflacionárias permaneceram extremamente amplas, com os preços dos principais bens reacelerando, devido aos contínuos aumentos nos preços dos carros novos e usados, juntamente com um salto nos preços do vestuário”, ressalta o Morgan.
“Ficou claro que a inflação continua alta e pelo menos em algumas áreas pode de fato ainda estar acelerando um pouco, definindo um tom hawkish para a reunião do Fomc da próxima semana”, lembra.
Para Étore Sanchez, economista da Ativa Investimentos, a surpresa mais proeminente do dado foi que o número cheio voltou a se acelerar, de 8,3% para 8,6%, acima do mais pessimista dos agentes, cuja projeção encontrava-se em 8,5%.
O avanço foi concentrado em alimentos e energia, mas o efeito sob os núcleos também não foram desprezíveis. Ainda que tenha se mostrado em desaceleração, de 6,2% para 6,0% na base anual, a velocidade da queda foi inferior ao que boa parte do mercado esperava, visto que a mediana das expectativas estava em 5,9%.
“A teoria de que a inflação já tinha atingido seu pico perde força com o headline voltando a se acelerar”, destaca. Mesmo assistindo os núcleos em declínio, a pressão sobre o Fed se amplia novamente, principalmente no tocante a taxa terminal, visto que o ritmo parece pavimentado em alta de 0,5 ponto por reunião, aponta.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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Por: Equipe InfoMoney – InfoMoney