Quem nasceu até meados da década de 80 deve lembrar bem de algumas rotinas impostas pelo descontrole inflacionário que o momento impunha para as pessoas. Todo início de mês, com a chegada do salário, famílias inteiras corriam ao supermercado para fazer as compras, se abastecer durante o maior tempo possível e tentar fugir da próxima remarcação de preços que viria em breve, muitas vezes no mesmo dia.
Os atuais índices de inflação ainda estão longe daqueles níveis do passado, mas a mudança de comportamento dos consumidores já começa a ser sentida nos supermercados. “Ainda estamos medindo esse comportamento, mas é possível notar que as pessoas indo menos vezes às lojas e concentrando as compras nos dez primeiros dias do mês”, afirma Marcio Milan, vice-presidente institucional e administrativo da Abras (Associação Brasileira de Supermercados).
Ele lembra que, no passado, cerca de 50% das vendas mensais dos supermercados no Brasil se concentravam nos dez primeiros dias de cada mês. Hoje, a entidade está trabalhando para mensurar quanto das vendas do setor ocorrem no início do mês, levando ainda em consideração o fato de uma parte crescente dos negócios ainda ocorrerem via online. “Os consumidores estão buscando promoções, trocando marcas mais caras por outras mais baratas e buscando o equilíbrio para enfrentar a inflação”, diz.
Enquanto os consumidores usam as armas que têm, a Abras está levando para Brasília uma reivindicação antiga do setor. Os supermercados tentam, mais uma vez, zerar os impostos que incidem sobre os produtos da cesta básica, como medida para tentar reduzir a inflação dos alimentos. “Essa é uma pauta antiga que nunca conseguimos levar adiante, mas o momento é oportuno e acredito que o governo esteja mais sensível para ouvir o pleito”, diz Milan.
Inflação com valorização das commodities, reajustes nos combustíveis e energia
Mesmo com a expectativa de que os preços dos alimentos nos supermercados ainda sofram novos reajustes, devido especialmente à recente valorização das commodities, reajustes nos combustíveis e energia, o varejo projeta que o consumo dos brasileiros encerre o ano com um crescimento de 2,8%. Em janeiro, o desempenho do setor foi de um crescimento de 1,23%, o que representou uma forte desaceleração em relação a dezembro.
Segundo Milan, o resultado de janeiro já ocorre sobre uma base muito elevada, que foi janeiro do ano passado. “O cenário de 2022 é muito diferente do que vimos em anos anteriores. Janeiro é um mês de férias e é normal ocorrer uma desaceleração em comparação a dezembro, que é o mês de maior consumo. Janeiro do ano passado foi algo atípico por conta da covid”, diz.
Ainda assim, o setor se mostra otimista. A queda nas taxas de desemprego, o Auxílio Brasil fixo em R$ 400, os investimentos feitos pelo setor e a recomposição salarial que começa a acontecer nas convenções coletivas são alguns dos fatores que ainda levam os supermercados a não revisarem sua estimativa de crescimento para o ano.
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Por: Bloomberg Línea – Suno