O dólar à vista fechou a segunda-feira em forte alta ante o real, retomando o patamar dos R$ 5, após investidores reagirem negativamente ao anúncio de que o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, será indicado para a diretoria de Política Monetária do Banco Central.
O dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,015 na venda, em alta de 1,44%. Foi o maior ganho percentual em um dia desde 19 de abril, quando havia subido 2,20%. A divisa comercial, por sua vez, avançou 1,37%, a R$ 5,011 na compra e R$ 5,012 na venda.
Apesar de o nome de Galípolo já circular há algumas semanas no mercado, a oficialização gerou um movimento de proteção dos investidores no dólar, o que impulsionou as cotações.
A avaliação é de que, com o braço direito de Haddad no BC, o governo terá mais força para interferir na política monetária –alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em função do nível atual da taxa básica Selic, de 13,75% ao ano.
“Houve um movimento de proteção em função do braço direito de Haddad poder interferir na política monetária, ao ir para o BC. Ainda que o nome estivesse circulando, a confirmação estressou os negócios”, disse Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora.
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Às 12h08 (horário de Brasília), pouco antes de o nome de Galípolo ser oficializado, o dólar era cotado a R$ 4,9557 (+0,24%). Às 12h11, com a indicação confirmada, a moeda norte-americana já era negociada a R$ 4,9813 (+0,76%). Na sequência, continuou a subir.
“O Galípolo foi o principal fator de influência nos mercados, principalmente o de câmbio. O dólar operava em linha com os mercados lá fora e, após o anúncio, vimos o real passando a se desvalorizar de forma mais significativa”, comentou Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho.
No início dos negócios, às 9h13 (horário de Brasília), o dólar foi negociado na cotação mínima de 4,9420 (0,03%). À tarde, às 15h09, a moeda norte-americana marcou a máxima do pregão, de 5,019 reais (1,52%).
No exterior, o dólar também subia ante outras divisas de países emergentes, mas em percentuais menores. A moeda norte-americana tinha leve alta ante uma cesta de moedas.
Às 17h33 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – subia 0,07%, a 101,390.
Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de junho.
Os juros futuros também reagiram à indicação ao BC. Entre os vencimentos de curto prazo, as taxas cederam após o anúncio, mas terminaram a sessão muito próximas da estabilidade, enquanto os de vencimento mais longo subiram.
“A indicação de Gabriel Galípolo para diretor de política monetária do Banco Central provocou aumento da inclinação da curva de juros futuros, com alta nas taxas de vencimentos longos e queda nos curtos, mais sensíveis à política monetária, que poderia ganhar vozes mais dovish (mais branda) ou alinhadas aos anseios do governo”, pontua Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.
Os DIs para 2024 ganharam dois pontos-base, a 13,21%, e os para 2025 fecharam estáveis, a 11,68%. Os contratos negociados para 2027 ganharam 13,5 pontos, a 11,57%, e os para 2029, 13 pontos, a 11,97%. Os DIs para 2031 foram a 12,23%, com mais 14 pontos.
Por trás do movimento está a percepção de que Galípolo, como diretor, pode elevar a pressão para que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a taxa básica Selic, hoje em 13,75% ao ano.
“O fechamento das taxas mais curtas mostra uma reação ao Galípolo, mas as longas abrem com a possibilidade de um erro na política monetária. Ou seja, é a ideia de que corta agora e sobe lá na frente”, resumiu durante a tarde Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos.
Além de Galípolo, Haddad anunciou que Ailton de Aquino Santos ocupará a diretoria de Fiscalização do BC. A diferença é que Santos já faz parte do quadro do Banco Central e ocupará uma diretoria que, tradicionalmente, é comandada por servidores de carreira.
No Copom, em um grupo de nove pessoas que definem a Selic – incluindo Campos Neto – duas delas passarão a ser indicações do novo governo. Pela Lei de Autonomia do Banco Central, Lula poderá indicar mais dois diretores no início de 2024 e trocar o presidente do BC no início de 2025, além de outros dois diretores. Na prática, os indicados de Lula passarão a ser maioria na cúpula do BC em 2025.
Para Rostagno, do Banco Mizuho, a indicação de Galípolo eleva a pressão por cortes da Selic.
“Galípolo vai entrar na diretoria do BC com o objetivo claro de tentar antecipar o movimento de corte de juros. Então, a preocupação é justamente com uma mudança no balanço de forças dentro do BC na direção de uma maior leniência com a inflação”, comentou Rostagno.
“Após o anúncio, o contrato para janeiro de 2025 passou a cair e a parte longa da curva, como no caso do janeiro 2029, ampliou a alta”, acrescentou.
Apesar do movimento no câmbio e nos juros, alguns economistas também apontam que Galípolo pode levar a uma maior conciliação entre governo e BC, levando a uma divisão dos analistas sobre o tema.
(com Reuters)
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Por: Equipe InfoMoney – InfoMoney