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Melhora expressiva do varejo em janeiro não muda projeções de estagnação para o ano, dizem analistas

Loja da varejista Primark

Após uma sequência de quedas, a alta no volume de vendas no varejo brasileiro em janeiro deve ser considerada uma notícia positiva, mas analistas alertam que uma observação mais cautelosa – para além da variação mensal – ainda mostra um momento de estagnação. Entre os fatores que comprovam essa leitura estão a base de comparação mais fraca de dezembro e o comportamento do varejo ampliado no início do ano.

Segundo divulgou o IBGE nesta quarta-feira (12), as vendas varejistas aumentaram 3,8% em janeiro, após uma queda de 2,8% em dezembro. Mas a média móvel trimestral, com ajustes sazonais, subiu apenas 0,1% no fechamento do mês.

E o varejo ampliado, que inclui o comércio automotivo, os materiais de construção e, como novidade da pesquisa, o atacado especializado, avançou 0,2% no primeiro mês de 2023.

Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, diz que é preciso ter cautela com as análises mensais, especialmente para resultados com ajuste sazonal. “As vendas no varejo restrito crescem fortemente em janeiro, após números ruins em dezembro, mas a tendência de curto prazo ainda aponta para uma estagnação”, argumenta.

O economista lembra que algumas atividades do varejo foram fortemente afetadas pela realização da Copa do Mundo e pela Black Friday no final do ano passado. Um exemplo, foi a atividade de “Tecidos, vestuário e calçados”, que disparou 27,9% em janeiro na comparação mensal, após uma queda de cerca de 15% de setembro a dezembro.

Margato afirma que, para suavizar os movimentos marginais acentuados, é preferível observar o trimestre móvel das vendas no varejo. E nesse caso, o índice ampliado avançou apenas 0,2% no trimestre, enquanto o índice restrito caiu 0,8% em janeiro de 2023.

Para ele, a reformulação da pesquisa mensal realizada pelo IBGE não alterou significativamente as perspectivas para as vendas do varejo brasileiro em 2023. “Continuamos esperando um crescimento moderado para o consumo”, prevê, apontando que o aumento da renda disponível das famílias evitará um piora acentuada do consumo.

“Segundo nossos cálculos, a renda real das famílias crescerá 3,5% neste ano, sustentando atividades varejistas como supermercados, alimentos, bebidas, produtos farmacêuticos e de higiene pessoal. Por outro lado, os segmentos mais sensíveis ao crédito provavelmente enfrentarão um ano desafiador”, comenta.

Essas condições de crédito mais apertadas e o endividamento das famílias devem pesar mais sobre as atividades de varejo como veículos, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e material de construção. “Projetamos que as vendas totais do varejo crescerão em torno de 1,5% em 2023. Nosso cenário base considera um crescimento de 1% para o PIB total”, afirma.

Para o Santander, no geral, foi um desempenho mais favorável para o varejo em janeiro, após um dezembro fraco. “A maior parte das atividades varejistas teve alta na margem e se recuperou das quedas de dezembro”, comenta o banco em sua análise.

“Do lado negativo, o varejo ampliado veio abaixo do esperado, com queda nas vendas de veículos. Olhando para o futuro, apesar dos sinais ainda positivos em fevereiro, esperamos que a atividade de varejo retorne a uma tendência de desempenho morno”, diz o banco.

Comportamentos distintos

Para o Banco Original, o crescimento em sete das oito atividades de pesquisas no varejo restrito também foi uma surpresa positiva.

“O destaque ficou com o setor de tecidos, vestuários e calçados, que cresceu 27,9%. O único setor que recuou foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (-1,2%). Esse resultado pode ter sido influenciado por uma Black Friday e um Natal mais modesto, mas também por um mercado de trabalho aquecido e com rendimentos crescentes”, comentam os economistas Marco Caruso e Igor Cadilhac.

Com relação ao varejo ampliado, o Original vê como principal frustação o segmento de veículos, motocicletas, partes e peças, que recuou 0,2% em janeiro. “Como era esperado pela análise dos indicadores coincidentes de alta frequência, o setor parece ter refletido a queda de quase 5% nos licenciamentos de automóveis e comerciais leves na passagem de dezembro para janeiro”, afirmam.

Por outro lado, materiais de construção avançaram 2,9%, em linha com o crescimento de 8,1% ante dezembro na venda de cimento por dia útil.

“Olhando à frente, a performance do setor deve ser mais heterogênea. De um lado, o encarecimento do crédito e o alto comprometimento de renda das famílias deve seguir pesando sobre os itens de maior valor agregado. De outro, o bom desempenho do mercado de trabalho em um ambiente de arrefecimento da inflação e transferências de renda por parte do governo dão sustentação ao varejo restrito”, afirmam Caruso e Cadilhac.

Incremento na renda

O relatório do Goldman Sachs assinado por Alberto Ramos vai na mesma linha, prevendo que as condições financeiras domésticas apertadas, o crédito cada vez mais restrito e a confiança fraca do consumidor devem segurar a atividade de varejo nos próximos meses.

Por outro lado, a moderação da inflação e a as generosas transferências fiscais em dinheiro para famílias com alta propensão a consumir devem oferecer algum suporte de curto prazo à atividade, segundo Ramos.

Rafael Perez, economista da Suno Research, é outro analista a recomendar cuidado na avaliação dos dados. “Apesar do dado bastante positivo no início do ano ainda é preciso ter cautela sobre o setor, visto que o cenário doméstico se mostra bastante desafiador”, comenta.

Para ele, a desaceleração da atividade, a perda de dinamismo do mercado de trabalho e o aumento do endividamento e da inadimplência das famílias tendem a afetar o ímpeto por gasto pelas famílias.

“Diante desse quadro, o governo vem buscando medidas de incentivo ao consumo que podem sustentar a demanda e trazer algum fôlego para o varejo ao longo do ano, como a elevação do salário-mínimo, o programa de renegociação de dívidas – o Desenrola – o aumento da faixa de isenção do IR e a expansão do Bolsa Família.”

Para o BTG Pactual, houve a surpresa positiva no conceito restrito do varejo e negativa no ampliado. “O efeito base de dezembro foi relevante para a boa leitura no restrito, mas observamos importantes movimentos anuais em super e hipermercados e eletrodomésticos”, comenta o banco.

Para o ano, o BTG Pactual não espera mudanças significativas no cenário varejista, tendo como vetor positivo o mercado de trabalho fortalecido, o aumento do salário-mínimo e o programa “Desenrola”, o que deve beneficiar os grupos de Alimentos e Bebidas e Farmacêuticos.

“Os grupos de Vestuários e Artigos Pessoais também podem ser beneficiados por estes vetores, mas de maneira mais branda, dado o caráter não essencial dos bens”, diz o banco em relatório.

“Mantemos a cautela com os segmentos dependentes de financiamento, que já vêm sendo impactados pelo encarecimento do crédito, cenário incerto econômico à frente e aumento da inadimplência. Nesse sentido, destaque principalmente para as leituras do ampliado, que é fortemente afetado por condições financeiras mais restritivas”, afirma o banco.

Para o banco esse resultado reforça o quadro de desempenho misto entre os segmentos da economia, com a Indústria apresentando enfraquecimento mais rápido que os segmentos de varejo e serviços.

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Por: Roberto de Lira – InfoMoney

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