Os fundos de investimento registraram resgates líquidos de R$ 82,1 bilhões no primeiro trimestre de 2023. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), essa é a primeira vez em cinco anos em que os fundos fecham os três primeiros meses do ano com mais resgates do que aportes.
Ainda assim, a indústria cresceu: o patrimônio líquido atingiu R 7,5 trilhões, o número de contas ultrapassou a marca de 35,4 milhões e o de gestoras subiu de 842 para 928.
“Tanto no Brasil quanto no exterior, a economia pós-pandemia trouxe surpresas negativas. Um exemplo é a inflação, com preços pressionados pelo desequilíbrio nas cadeias de produção resultante da pandemia e, depois, pelos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia”, destaca Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima.
O executivo avalia que a aversão ao risco foi intensificada no primeiro trimestre por três fatores:
- falta de previsibilidade sobre a queda na taxa de juros;
- incertezas relacionadas à política econômica do novo governo;
- casos envolvendo crédito privado de grandes empresas do mercado.
Anbima: captação líquida dos fundos
Ainda segundo os dados da Anbima, todas as classes de fundos apresentaram resgates líquidos no período, com exceção dos Fundos de Investimento em Participações (FIPs), que tiveram captação líquida positiva de R$ 3,4 bilhões.
Os multimercados e os fundos de ações lideram o movimento de saída, com resgates líquidos de R$ 37,4 bilhões e de R$ 23,9 bilhões, nesta ordem.
Os fundos de renda fixa vêm logo em seguida, com saldo negativo de R$ 12,2 bilhões. O resultado foi influenciado, em parte, pelo saque de R$ 19 bilhões em um único fundo do tipo duração baixa grau de investimento (investem, no mínimo, 80% em títulos públicos com prazos curtos).
A classe foi a que apresentou a maior queda na comparação com o primeiro trimestre de 2022, quando teve captação líquida positiva de R$ 108,4 bilhões.
Número de contas
Os dados da Anbima vão além, e mostram que a indústria de fundos ganhou quase 1 milhão de novas contas de investidores nos três primeiros meses deste ano, atingindo a marca de 35,4 milhões.
Ao analisar a evolução nos últimos 12 meses, o destaque fica para os fundos estruturados. Percentualmente, os FIPs lideram a lista com um crescimento de 116,7% após a entrada de 59 mil novas contas.
Já os Fundos de Investimento Imobiliário (FIIs) ficam no 1º lugar em números absolutos, com o aumento de 3 milhões de contas no período, o que representa uma variação de 44,9%. A quantidade total de fundos também aumentou de 26.929 para 29.331, o que representa um avanço de 8,9% em 12 meses.
Fundos: rentabilidade
Dentre os tipos com maior patrimônio líquido da indústria, todos os fundos de renda fixa tiveram rentabilidade positiva no período. As maiores valorizações foram obtidas pelos tipos que investem em papéis de longo prazo:
- renda fixa duração alta soberano (investe 100% em títulos públicos), com 3,9%;
- renda fixa duração alta grau de investimento (investe, no mínimo, 80% em títulos públicos), com 3,3%.
Entre os multimercados, o retorno dos principais tipos foi positivo:
- multimercado macro (baseiam suas estratégias em cenários macroeconômicos de médio e longo prazo) avançou 1,5%;
- multimercado livre (sem compromisso de concentração em nenhuma estratégia específica) cresceu 1,1%;
- multimercado investimento no exterior (podem aplicar mais de 40% em ativos internacionais) obteve valorização de 0,3%.
Já no recorte de ações, houve queda na rentabilidade. O tipo com o pior retorno no primeiro trimestre de 2023 são as ações small caps — que investem, no mínimo, 85% da carteira em ações de empresas que não fazem parte do top 25 do Índice Brasil (IBrX), que recuou 8%.
Por fim, a Anbima traz o destaque dos tipos de ações sem compromisso de concentração em nenhuma estratégia específica e ações investimento no exterior (podem aplicar mais de 40% em ativos internacionais), com baixa de 5% e de 4,6% respectivamente.
Por: Janize Colaço – Suno