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Apostas para o governo Lula, ações domésticas caem forte em novembro com risco fiscal e perspectivas ruins de curto prazo

gráfico de ações e índices em queda

Varejo, educação, construção. Esses eram alguns setores destacados como as grandes apostas na Bolsa em caso de vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições para presidente da República, que se concretizou em 30 de outubro de 2022. A expectativa de prorrogação do Auxílio Brasil, estimulando o consumo, além de uma turbinada nos programas sociais de financiamento estudantil e de moradias, durante o próximo governo do petista acabou por guiar as projeções mais positivas às vésperas do pleito.

Contudo, passado um mês desde a eleição, as ações de diversas companhias desses setores, de consumo doméstico, destacam-se entre as maiores quedas do Ibovespa neste período. No acumulado de novembro (que exclui a reação pós-eleição, do dia 31 de outubro), as ações de Americanas (AMER3) aparecem entre as maiores baixas, com queda de cerca de 36% até o início da tarde desta terça-feira (29), enquanto Via (VIIA3) tinha baixa de 33% e Magazine Luiza (MGLU3) registrava perdas de 26% no mesmo período. CVC (CVCB3), do setor de turismo, caía 33%.

Do setor de educação, Cogna (COGN3) tinha perdas parecidas às de CVC e de Via, enquanto a Yduqs (YDUQ3) caía 29%. Entre as construtoras, Cyrela (CYRE3) e EzTec (EZTC3) tinham baixa de cerca de 22% e mesmo a MRV (MRVE3), vista como uma das beneficiadas com a volta do Minha Casa Minha Vida, tinha perdas de cerca de 15%, após já ter registrado perdas de 18% em outubro.

O que explica esse desempenho negativo é uma conjunção de fatores, principalmente associado ao cenário macroeconômico, mas também por incertezas mais setoriais.

Olhando para o cenário macro, os mercados foram direcionados pelo risco fiscal no mês de novembro, tanto com declarações de Lula que desagradaram ao indicarem menor responsabilidade com os gastos públicos quanto pela apresentação da PEC de Transição que deixou de fora do teto de gastos R$ 198 bilhões (ainda que sujeita a negociações). Os rumores sobre quais serão os nomes da equipe econômica também geram turbulência no mercado.

Se a inclinação por mais gastos, a princípio, poderia indicar maior consumo, o que contribuiria para as ações das empresas domésticas, também traz mais preocupações com o risco fiscal, levando a um impacto na curva de juros futuros, com visão de taxas mais altas para conter a inflação, e afetando as ações.

Com o risco fiscal em voga, analistas de mercado passaram a revisar as suas projeções para os juros neste ano e no ano que vem, vendo uma desaceleração nas quedas dos juros. Conforme apontou o relatório Focus da última segunda-feira, a expectativa para a taxa de juros básica (Selic) continuou em 13,75% para este ano e, para 2023, seguiu em 11,50%, mas para 2024, foi elevada de 8,00% para 8,25%, após 19 semanas de estabilidade.

As empresas de varejo e de construção civil tendem a ser negativamente afetadas por juros mais altos que, no fim do dia, tendem a desestimular o consumo. Isso porque a taxa de financiamento mais alta tende a pesar mais no bolso dos clientes, que passam a evitar gastar quando possível. O mesmo acontece com as educacionais que, com mais restrições orçamentárias dos alunos, também acabam sendo impactadas.

Em análise em setembro, antes do primeiro turno, para o InfoMoney sobre as ações para ganhar com o cenário eleitoral, Tiago Cunha, gestor de renda variável da ACE Capital, já havia destacado esse possível efeito contrário. “Se um auxílio emergencial for prorrogado acima do seu teto fiscal, vai ter um impacto de seis meses ou um ano sobre as vendas no varejo das empresas. Vai haver um fluxo positivo nesse período. Mas, do ponto de vista fiscal, aumentaria o custo de emissão de dívida, com um impacto na curva longa de juro. Isso afetaria ações de crescimento, como varejistas e empresas de consumo”, apontou o gestor em setembro.

Falta de sinalizações

Mas, além disso, as empresas sofreram com a falta de sinalização sobre os programas do governo eleito durante esse mês que passou, em um novembro também marcado pela reta final da temporada de resultados, que trouxe com ela as expectativas das empresas para os próximos quatro anos.

Entre as construtoras, Direcional (DIRR3) adotou cautela em teleconferência após a divulgação de resultados. “Tem realmente como ver como vai funcionar o programa, até porque a situação fiscal do país ainda é delicada, com volume de gastos muito alto no período da pandemia”, disse Ricardo Ribeiro, CEO da empresa.

Já Ricardo Paixão, CFO da MRV (MRVE3), durante participação no Por Dentro dos Resultados, projeto no qual o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior, destacou que o novo governo deve ter uma ênfase maior no quesito popular. “A gente acha que deve ter alguma mudança no programa [Casa Verde e Amarela], algo mais superficial, como o próprio nome [que deve voltar a ser Minha Casa Minha Vida], mas também pode ter alguma medida mais agressiva, como um desconto maior, uma participação maior do orçamento da OGU, o Orçamento Geral da União, principalmente nas faixas mais baixas do programa, tanto na faixa 1 como no início da faixa 2”, disse o executivo.

Entre as educacionais, Roberto Valério, CEO da Cogna (COGN3) também mostrou cautela sobre os programas do governo eleito. “A quantidade de informações é muito limitada. Lula falou diversas vezes sobre investimento em educação e retomada do FIES. Recebemos a notícia de maneira positiva porque o mercado precisa, há muitos brasileiros que gostariam de estudar e não tem condições, mas temos pouca informação sobre o tamanho do programa e as condições”, disse o executivo, em entrevista ao InfoMoney.

Eduardo Parente, CEO da Yduqs (YDUQ3), também mostrou prudência ao falar sobre o programa em teleconferência com analistas após o resultado. “Eu não sei nada além de vocês, sabemos que o presidente eleito tem dado sinais nesta direção [retomada do Fies], o que seria bastante saudável. Seria uma injeção de receita muito grande, segundo nossas contas preliminares, mas ainda não há como estimar isso de fato”, disse.

Já as varejistas, notoriamente as de e-commerce, ainda que registrem sessões de forte volatilidade, também enfrentaram uma temporada do terceiro trimestre de resultados e, posteriormente, uma Black Friday pouco animadoras. Em relatório, a XP destacou que o macro desafiador impactou os resultados do setor em geral entre julho e setembro, sendo o principal desafio para as empresas de e-commerce por conta da redução do tíquete médio e queda de volumes.

O Bradesco BBI também apontou que as três principais empresas de e-commerce listadas na B3 – Americanas, Via e Magalu – divulgaram dados fracos de forma geral, com os números refletindo a alta exposição das empresas a categorias cíclicas que dependem de taxas de juros, crédito e inflação – variáveis que carecem de indicações de que podem melhorar em breve.

Sobre a Black Friday, dados da Confi Neotrust, em parceria com a empresa de inteligência de dados ClearSale, revelaram recuo anual de 34,2% no faturamento do varejo online de meia-noite de quinta-feira até sexta-feira às 19 horas, para cerca de R$ 3,1 bilhões. No sábado, o desempenho melhorou, mas ainda assim ficou 4,3% abaixo do faturamento visto um ano antes, movimentando cerca de R$ 1,2 bilhão, segundo dados da Neotrust com base nas vendas do dia inteiro.

A equipe do Safra afirmou em comentário a clientes não acreditar “que alguém esperasse que a Black Friday mudasse drasticamente a tendência de um ano globalmente difícil para o e-commerce em termos de vendas”.

Os analistas disseram que as ações do setor devem continuar sendo mais impactadas pela “incerteza em relação ao cenário macroeconômico e seu impacto nas taxas de juros (e consequentemente no custo de capital) do que pelo desempenho operacional de curto prazo.”

A Levante Ideias de Investimentos também aponta que, além do cenário econômico difícil no ano, há um início de 2023 ainda com elevado grau de incerteza política sem perspectiva de melhora na renda no curto prazo após a troca de governo, o que tem levado o consumidor a controlar mais os gastos.

Assim, apesar das possíveis sinalizações positivas para os setores com o novo governo, o risco fiscal e a falta de sinalizações mais claras sobre os programas nos próximo governo preponderaram, afetando as ações de consumo doméstico em geral.

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Por: Lara Rizério – InfoMoney

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